A fúria de Bolsonaro contra a imprensa livre

30/10/2018 15:58 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Jair Messias Bolsonaro é hoje o que era ontem e o que sempre será. Pode-se debater o que o futuro   governo fará na economia. O mar de analistas pode especular sobre a formação do ministério ou a postura do Planalto na eleição das presidências da Câmara e do Senado. Há um panorama de total incerteza sobre as primeiras medidas do governo eleito, ainda agora na fase inicial de transição.

Nada disso, porém, é tão relevante quanto o debate sobre as liberdades em geral e a liberdade de imprensa em particular. E isso está claro depois das entrevistas que Bolsonaro deu na noite desta segunda-feira. Em todas as emissoras, ele deixou claro que não tem nada de discurso de pacificação – é o contrário. Mau vencedor, o messias das redes sociais mostra que está com a faca nos dentes.

A mais importante das entrevistas foi ao Jornal Nacional. O presidente da direita extrema cometeu uma patética ameaça à Folha de S. Paulo – que há pouco mais de três décadas se transformou no mais influente e respeitado jornal da imprensa brasileira. Bolsonaro, coitado, é daqueles casos que acreditam na mudança da realidade só porque ele exige que as coisas sejam do jeito que ele quer.

“Por si só, esse jornal se acabou”, disse o capitão da tortura, ao mostrar sua raiva com a postura da Folha durante a campanha. O jornal fez reportagens que mostram diferentes traquinagens na conduta do eleito. Acabar com o jornal é a vontade acalentada na cabecinha dodói do truculento e inculto Bolsonaro. Mas ele sabe que a verdade é exatamente o oposto de sua pregação.

É preciso que se ressalte a postura do jornalista Willian Bonner diante das palavras estúpidas do eleito que exalta a ditadura. O editor-chefe do JN deu uma tacada certeira ao afirmar que “a Folha é um jornal sério e tem um papel essencial” na defesa das liberdades e dos valores da democracia. Bolsonaro não reagiu. Calou-se. Foi uma noite que entrou para a história da imprensa brasileira.

Na edição da segunda-feira, com a cobertura sobre a vitória de Bolsonaro nas urnas, a Folha trouxe um editorial na primeira página. Leitura obrigatória. Mais que reafirmar a posição do jornal, sem salamaleques ao novo poderoso no pedaço, o texto é um compromisso com o Brasil. De Fernando Collor a Michel Temer, presidentes jamais tiveram boa vida nas páginas da Folha. É sua grande marca.

Se o homem ainda nem tomou posse, e já solta as garras do autoritarismo – em harmonia com os momentos mais baixos da campanha –, quando tiver a caneta entre as patas, o pior será sempre a alternativa imediata. Elegemos um sujeito que não tem qualquer convivência com regras civilizadas. E esse padrão será levado ao governo, com desdobramentos imprevisíveis. Isso é Bolsonaro.

Por isso tudo, não tem conversa sobre metas na economia ou planos sobre Mercosul, ou ideias sobre privatização e alianças no Congresso – o que vai pegar mesmo é a linha de ação autoritária de um governante boçal. Como não acredito em milagre, tenho certeza que o ambiente tem tudo para piorar nesse campo dos direitos individuais. É da alma bolsonarista, se é que me entendem.

Vocês não acham sintomático que, no dia seguinte à vitória, no momento de celebração, o eleito defenda a extinção de um jornal e insulte o papel da imprensa? Isso não ocorreu por acaso. É assim que Bolsonaro entende o mundo. Se pudesse, mandaria fechar a Folha hoje mesmo. E deve ficar numa agonia tremenda ao tentar entender por que ele, mesmo presidente, não pode tudo.

Ao dizer que veículo que conta “mentiras” não terá publicidade do governo, Bolsonaro parece até que fez um cursinho sobre o assunto aqui em Alagoas. Mas isso é uma divagação. Para encerrar, só os fiéis da seita ou os rapazes da “nova direita” defendem uma “normalidade” nas palavras do capitão da tortura. Bolsonaro não muda. Contra sua fúria antidemocrática, a imprensa livre será crucial.

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