Após o discurso que fez no domingo a uma multidão em transe na Avenida Paulista, Bolsonaro mostra que já nem se importa em disfarçar – quer governar o Brasil como um típico ditador. Comentei as declarações delinquentes em texto anterior. Entre outras barbaridades, ele disse abertamente que opositores, em seu eventual governo, ou saem do país ou serão presos.
Como fica bem claro, a coleção de absurdos mostra que imprensa, minorias, movimentos sociais e qualquer segmento que pense diferente do sabujo da ditadura militar serão tratados como inimigos num governo Bolsonaro. Não há qualquer dúvida quanto às intenções do adulador de torturadores.
O discurso odiento do presidenciável, que não é de hoje, alimenta não apenas sua tropa mais íntima, mas sobretudo o eleitorado comum, o cidadão de bem – essa entidade fantasmagórica que a “direita democrática” inventou no Brasil. Obscurantismo e desprezo pelo outro explicam essa horda insana.
Não é por mero acaso que agressões se espalham pelo Brasil inteiro. Sair às ruas vestindo camiseta com alguma inscrição contra Bolsonaro é muito perigoso. Você será alvo de insultos (despejados aos berros) e haverá grande chance de levar cusparadas e, mais grave, socos e pontapés. Isso já ocorre.
Também sobram relatos de casos de homofobia por parte dos fãs de Bolsonaro. “A safadeza vai acabar”, gritam eles ao identificarem pessoas como gays em locais públicos. E olhe que o “pessoal” do capitão defende os valores da família, de Jesus, Nossa Senhora e todos os caboclos cristãos.
No último sábado houve passeata pela orla da Ponta Verde em apoio ao candidato Fernando Haddad. Da varanda dos prédios à beira-mar, onde vive parte da escrota e corrupta elite alagoana, moradores faziam o gesto de fuzilar manifestantes. Sentem-se autorizados pelo ídolo que adoram.
O culto cego a personalidade é um dos traços definitivos nos regimes mais sombrios ao longo da História. É disso que se trata quando falamos de Jair Bolsonaro e do exército de patriotas que querem “salvar” o Brasil de inimigos inventados por eles mesmos. O candidato é o símbolo das trevas.
Nenhum exagero nesse diagnóstico. Não acuso Bolsonaro de nada. Ele próprio o faz, com orgulho, ao defender extermínio de pessoas e zombar dos mais pobres, entre tantos de seus atos criminosos. E faz isso há mais de duas décadas, desde que entrou na vida pública. É um ser irrecuperável.
Se eleito, como apontam as pesquisas, o Brasil terá um presidente que o mundo civilizado considera um pária. É assim que ele é apresentado, com razão, na imprensa internacional mais respeitada. Não tem nada que ver com direita ou esquerda. A eleição se dá entre o pior autoritarismo e a democracia.