O domingo passou como um vendaval sobre a vida pública brasileira, com ameaças explícitas ao STF, à imprensa e aos movimentos sociais – tudo isso, claro, partindo diretamente da turma de Jair Bolsonaro. Primeiro, foi o vídeo do deputado Eduardo Bolsonaro, filhote do candidato a presidente, esse modelo ideal da nossa “direita democrática”. Segundo o aprendiz de tiranete, com o governo do seu papai, bastam “um soldado e um cabo para fechar o Supremo”. A bagaceira não parou por aí.

Raivoso com a Folha de S. Paulo, que revelou o esquema de caixa 2 via WhatsApp na campanha, o presidenciável partiu pra cima do jornal em discurso para sua tropa. Fala, capitão: “A Folha de S. Paulo é a maior fake news do Brasil. Vocês não terão mais verba publicitária do governo. Imprensa vendida, meus pêsames”. No mesmo pronunciamento, ele diz que vai “banir” do país quem não concordar com o governo. A uma semana do segundo turno, o recado é direto e ameaçador. Prestemos atenção:

“Perderam ontem, perderam em 2016 e vão perder a semana que vem de novo. Só que a faxina agora será muito mais ampla. Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão pra fora ou vão para a cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria”. É esse o democrata que está na iminência de assumir o comando do país. Um estadista.

Vê-se que o “pessoal” de Bolsonaro, como diria seu filho, prega o discurso da paz. Vamos ler mais um pouco sobre os planos do futuro presidente: “Vocês verão umas Forças Armadas altivas. Que estará colaborando com o futuro do Brasil. Vocês, pretalhada, verão uma Polícia Civil e Militar com retaguarda jurídica para fazer valer a lei no lombo de vocês”. A linguagem revela a alma do falante.

Agora vamos ouvir Bolsonaro sobre seus projetos para os movimentos sociais: “Bandidos do MST, bandidos do MTST, as ações de vocês serão tipificadas como terrorismo. Vocês não levarão mais o terror ao campo ou às cidades. Ou vocês se enquadram e se submetem às leis ou vão fazer companhia ao cachaceiro lá em Curitiba”. É praticamente uma declaração de guerra.

E como sempre ocorre nesses casos – prova a História –, se o chefe incita os subordinados, todo o resto se sente autorizado a detonar. Por isso, o bizarro Magno Malta meteu as patas no peito do STF e associou a Corte à bandidagem: “O Brasil tem bandidos também nos Tribunais Superiores. No Supremo Tribunal Federal deste país, cada um tem o seu bandido de estimação”. E aí, togados?

Incrível, mas sobre o vídeo de Eduardo Bolsonaro, a assessoria do STF informou à TV Globo que Dias Toffoli, o presidente, não iria se pronunciar. Mas isso deve mudar nesta segunda-feira. De acordo com a Folha, Marco Aurélio Mello falou em “tempos sombrios”. Outros ministros disseram ao jornal esperar por uma posição de Toffoli, ou do decano, Celso de Mello. O silêncio não passa de covardia.

Fechando esta resenha domingueira, já em plena madrugada da segunda, registro que até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que tirava um cochilo, acusou o golpe e escreveu no Twitter: “As declarações merecem repúdio dos democratas. Prega a ação direta, ameaça o STF. Não apoio chicanas contra os vencedores, mas estas cruzaram a linha, cheiram a fascismo. Têm meu repúdio”.

Tudo isso nos dá um rascunho, digamos assim, do que pode estar a caminho com a vitória do capitão adorador de torturadores. Ele avisou faz tempo: você já se acostumou? É bom pensar um pouco.