Tema delicado. Um grupo de jornalistas alagoanos lançou um manifesto em defesa da candidatura de Fernando Haddad e, claro, contra o candidato Jair Bolsonaro. Antes de tudo, a iniciativa, legítima, tem meu respeito. Mas não tem minha adesão. Sempre fui arredio a esse tipo de militância por parte de qualquer segmento, que tenta impor uma opinião a partir da premissa de que seus autores estão do lado certo, enquanto quem pensa diferente não passa de alienado, ignorante e antidemocrático.
Minha opinião sobre Bolsonaro está em incontáveis textos no arquivo do blog, inclusive os mais recentes, que podem ser lidos aí abaixo. Mas tudo bem. Manifesto contra o capitão virou moda, inclusive entre celebridades internacionais. Nada disso, porém, me convence do acerto de tal estratégia. Engajamento partidário também me parece incompatível com a essência do jornalismo.
Não considero isso um primor de espírito democrático. A lógica é mais ou menos assim: minha turma está por dentro de tudo e pretende abrir a cabeça de desmiolados que nada sabem de coisa nenhuma. Quando critico as barbaridades que muitas ideias de Bolsonaro representam, também irrito seus eleitores, mas não tenho o direito de julgá-los como um bando de fascistas. É leviano.
Todo manifesto, cartilha, panfleto e abaixo-assinado necessariamente descartam, de saída, o diálogo e o contraditório. Em regra, é um modelo de documento que prega um tipo de segregação – portanto, reitera o clima de intolerância que, paradoxalmente, pretende combater. É uma união entre iguais; é a exaltação do pensamento único. Está de acordo com a tradição da esquerda sectária.
Entre os signatários do movimento estão militantes e filiados a partidos políticos, o que, por si só, também deixa as coisas um tanto enviesadas. Aliás, o título do texto publicado é este: Manifesto dos Jornalistas Alagoanos em favor de Haddad e contra o fascismo. Não. Essa inciativa não fala em nome dos “jornalistas alagoanos”, mas de um grupo específico. A categoria foi consultada sobre isso?
Ainda sobre o texto, vê-se ali toda uma coleção de cacoetes da velha esquerda, frases de efeito e ilações que nada têm de inédito. É a mesma linguagem adotada em diferentes ocasiões, quando isso é conveniente aos companheiros petistas e adeptos de outras siglas do mesmo campo ideológico. São aspectos que passam longe da defesa de valores, em nome de determinado grupo partidário.
E finalmente nada se diz sobre os graves erros cometidos pelos governos petistas, incluindo sobretudo o desprezo pela ética na gestão da coisa pública. Não dá para fingir que estamos defendendo um grupo de santos, inatacáveis em todos os sentidos – quando a realidade escancara exatamente o oposto. É triste, sim, mas o legado desses governos, em boa parte, é de desacertos.
No mais, nada contra os que assinam o manifesto, é evidente. Pelo contrário. Na foto que vi do grupo reunido, há vários profissionais com os quais trabalhei em diferentes redações. Aqui, trato de ideias e escolhas políticas. E sobre escolhas, você e eu podemos decidir com liberdade o que queremos, sem a bússola de qualquer agremiação de notáveis, sejam eles partidos ou influentes jornalistas.
Na era dos coletivos e dos grupos virtuais com milhares de “amigos” pela tela do computador, desconfio que fiquei para trás. Como diria aquele trovador maranhense, minha tribo sou eu.