Deputado estadual em primeiro mandato e senador eleito, Rodrigo Cunha conseguiu do eleitor o voto de quem espera por renovação na política. Renovação pra valer, não de fachada, é bom lembrar. É com esse discurso que ele vende seu peixe na praça. Sim, ele também se apresenta como exceção entre os colegas de mercadão da Assembleia Legislativa. Seu mandato, garante, não comporta jogadas espúrias e negociatas com o dinheiro do povo. Todos concordamos com ele.

Rodrigo Cunha também exalta uma trajetória de resistência e coragem diante da tragédia que marcou sua vida. Abordo o tema com tranquilidade porque ele mesmo fez desse episódio – o assassinato de sua mãe, Ceci Cunha – tema da campanha para deputado, quatro anos atrás, e repetiu a estratégia agora na batalha por uma cadeira no Senado. O marketing deu certo.  

Escrevo sobre o parlamentar porque acabo de descobrir que ele está sob uma angustiante pressão: vem sendo cobrado ostensivamente a declarar o voto para presidente: é Fernando Haddad ou Jair Bolsonaro? Ao pesquisar sobre o dilema do rapaz, fiquei um tanto decepcionado com sua postura: Cunha se omite, gagueja respostas enviesadas e elogia a neutralidade. Aí é conflito.

Cadê a coragem, meu jovem?! Não escolhemos plateias amestradas e ocasiões convenientes para defender princípios e valores. Fica muito feio. Ou somos isso ou aquilo. O corajoso na maré mansa não se rende à covardia na enxurrada. Aqui, não há alternativa, não existe muro protetor, por mais tucana que seja sua alma. Mas é exatamente essa a ideia que o deputado anda defendendo por aí.

Para os que ainda gostam de uma ilusão, vamos lembrar um dado estupidamente óbvio: Cunha é um político profissional – em começo de carreira, é verdade, mas profissional sim. Talvez por isso, ele se renda à histeria das redes sociais que exigem sua declaração de voto a Bolsonaro. Por sua trajetória e discurso, seria uma escolha acanalhada, uma afronta a tudo o que sempre defendeu até agora.

Mas ele parece estar morrendo de medo de irritar aquela tropa de “cidadãos de bem” – os celerados bolsonaristas – que não apenas votou em Cunha como se engajou em sua campanha. Fala aí, senador: No meu caso, não me identifico com qualquer um. Há pontos negativos dos dois lados. Não me sinto representado. E não farei campanha para um e outro. Ah, bom, agora ficou bonito.

Li a declaração acima no site da Assembleia Legislativa, que reproduz trecho de entrevista que o deputado deu à TV da casa. É um trololó cheio de curvas, que insinua tudo e nada esclarece. Sendo assim, Cunha vota nulo no segundo turno, é isso? Ele não responde. Lamento, mas igualar Bolsonaro e Haddad é típico do homem público que foge à responsabilidade, acovardado atrás da moita.

Vejam, não cobro que Rodrigo Cunha vote em Bolsonaro ou Haddad – isso quem faz são os militantes de lado a lado. Gostaria, sim, que ele tivesse posição transparente, em respeito ao mandato que exerce e ao mandato que exercerá a partir de 2019. E falo isso porque é com essa plataforma, digamos, que ele se apresenta na hora de pedir seu voto: um cara sem rabo preso.

Se não deve nada a ninguém; se faz política livre do cabresto dos coronéis; se defende a vida e condena arautos da tortura; se repele quem trata mulheres como vagabundas e negros como animais que pesam sete arrobas; se está ao lado da liberdade e despreza saudosistas da censura; se, afinal, é um democrata e não um fã de viúvos da ditadura que assassinou famílias – então seja claro.

Mas se, ao contrário, minimiza tudo isso que acabo de listar; se é simpático ao mantra “bandido bom é bandido morto”; se, finalmente, considera tais ideias de acordo com a civilização – então seja igualmente claro. Simular coragem no palanque, bajulado por acólitos, qualquer mequetrefe simula. Tomara que, como senador, o valente alagoano não vacile ao primeiro rugido da claque.