Propaganda de Bolsonaro revive a farsa da paranoia anticomunista

12/10/2018 15:15 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Antenado à urgência dos novos tempos, o programa de TV de Jair Bolsonaro parece falar para o Brasil de 50 anos atrás. Nesta sexta-feira, os presidenciáveis retornam à propaganda no rádio e na televisão. Com cinco minutos para cada um, os candidatos pegaram caminhos opostos na estreia do Guia Eleitoral para o segundo turno. E o capitão embarcou numa viagem ao passado.

O programa de Bolsonaro começou com um longo texto sobre a queda do muro de Berlim e a criação do Foro de São Paulo – dois eventos de décadas atrás. E o que isso tem a ver com a eleição brasileira, no Brasil de 2018? Na sociologia bolsonarista é simples: a turma do PT está tramando uma revolução comunista que vai transformar este país num lugar muito pior que a Venezuela.

Não sem antes fazermos uma ponte aérea com Cuba, país que também é citado como exemplo do que nos espera, no caso de vitória de Fernando Haddad. A ameaça vermelha não pode sujar as cores da nossa bandeira. Parece uma caricatura do ambiente que fabricou o golpe de 1964. Repete-se o mesmo tipo de slogan que embalou 21 anos de tortura e morte. É a alma de uma candidatura. 

O segundo aspecto que chama atenção na propaganda de Bolsonaro é a previsível tentativa de apresentá-lo como um cara sensível. Bem ao estilo Duda Mendonça, o marqueteiro de Maluf e Lula, o candidato foi às lágrimas ao falar da filha. A declaração de amor não combina com um vídeo em que ele faz piada com o nascimento da menina, após quatro filhos homens: foi uma “fraquejada”.

E foi assim. Na primeira parte do programa, vimos o velho e desprezível Bolsonaro – aquele que, além de requentar a paranoia anticomunista, exalta torturador e defende uma ditadura sanguinolenta. Na segunda parte, uma ficção: um sujeito tolerante, família, do bem. Por que a propaganda do candidato não exibe as imagens em que ele simula metralhar adversários? Escracha de vez, e pronto.

Em seu programa, o petista Fernando Haddad partiu para o ataque direto. Citou os casos de violência, até de morte, registrados nos últimos dias, e acusou Bolsonaro de incentivar o ódio entre os brasileiros. Como fez no primeiro turno, além da crítica ao adversário, o PT lembrou os avanços verificados nos anos Lula. Mas o ponto forte mesmo foi o discurso enfático em defesa da democracia.

Foi apenas o primeiro dia da propaganda na etapa final da eleição. Vamos ver se os candidatos reagem ao que foi exibido pelo adversário. A estratégia de Bolsonaro parece jogar para os convertidos. Apelar para o medo do comunismo foi demais. Já o petista fez a opção que parece a mais lógica. Ao discurso beligerante do oponente, é reafirmar valores como tolerância e liberdade.

É verdade que a onda verde e amarela já festeja a vitória do capitão – e falar qualquer coisa que indique uma ressalva a isso pode ser perigoso. Lamento, mas é o que se vê nas ruas, à luz do sol, no meio do povo. O clima foi esquentando, sem parar, e quando a gente olhou do lado, o cidadão de bem já estava rangendo os dentes e babando sangue. Olha, tem que dar um jeito nisso aí.

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