Linha dura: a polícia invade a política

09/10/2018 00:10 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

A policial que matou o bandido na porta de uma escola foi eleita deputada federal. Kátia Sastre, cabo da PM de São Paulo, conheceu a fama ao aparecer como a corajosa mulher que reagiu de maneira fulminante àquela tentativa de assalto. A repercussão do episódio, naturalmente registrado por câmeras de segurança, explodiu na rede e alcançou o mundo. O eleitor entendeu que a policial tem tudo para melhorar a prática política, levando ao Congresso Nacional coragem e eficiência.

Por aqui, a Assembleia Legislativa terá o Cabo Bebeto entre seus quadros a partir de 2019. Ele foi eleito deputado estadual com 31.573 votos. Filiado ao PSL (o partido de Bolsonaro), o futuro parlamentar é sintoma do que a imprensa passou a chamar de onda conservadora. Por todo o país, há uma multidão de vitoriosos nas urnas cujos nomes são precedidos pela patente.

Nessa bancada especial em todo o Brasil, estão também policiais civis, bombeiros e egressos das Forças Armadas. Em comum, o discurso em defesa da segurança pública, eterna pauta no país campeão em homicídios dolosos. Não chega a ser um grupo tão amplo quanto o dos evangélicos, mas as urnas deram mais força a esse segmento. Que tipo de ideia mobiliza os políticos/policiais?

Direito à posse de arma, dentro de critérios previstos em lei. Redução da maioridade penal. Radicalização nas ações de combate às drogas, com a criminalização de usuários. Fortalecimento das polícias militares. São alguns projetos na cabeça da turma. Linha dura pra botar ordem nas coisas.

Não é novidade que corporações mandem a Brasília seus representantes, a cada quatro anos, embalados no voto popular. É uma estratégia permanente de lobby por interesses localizados, exclusivos de grupos com poder de mobilização: advogados, empreiteiros, ruralistas, pastores etc.

A novidade em 2018, no fenômeno das patentes, é o crescimento do número de policiais campeões de voto. E, a novidade que realmente causa um terremoto político, é a explicação para isso tudo: o modelo desses eleitos é Jair Bolsonaro. “Tem que dar um jeito nisso aí” é o slogan da galera. Tá ok?

De Major Olímpio a Cabo Bebeto, passando pela Cabo Kátia, os brasileiros mandam um recado específico por meio desse voto. Parece óbvio, mas o que será exatamente que o eleitor está dizendo? A autoridade policial representa honestidade e eficiência na esfera pública? É o que parece.

Com essa onda toda, o que esperar dos novos eleitos que usavam farda até ontem? Provavelmente nada que esteja acima da média do nosso Congresso. Aposto que as causas paroquiais de suas categorias tomarão a agenda dos senhores e senhoras deputados e senadores. Pode esperar.

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