Nas últimas semanas, pastores da Igreja Universal do Reino de Deus deflagraram uma intensa operação em favor da candidatura de Jair Bolsonaro, o candidato do PSL a presidente da República. A Universal, uma das correntes evangélicas que mais cresceram no país nas últimas duas décadas, é chefiada pelo bispo Edir Macedo. Ele já declarou voto ao capitão reformado do Exército.

Edir Macedo também é o dono da Record TV – e isso significa uma cobertura jornalística simpática à campanha de Bolsonaro. Mas, antes de falar sobre a emissora, darei algumas informações sobre a estratégia da Universal de pescar votos para o candidato abençoado por seu poderoso bispo.

Eu disse que o engajamento aumentou de umas semanas pra cá. Como sei disso? Conversando com fiéis que frequentam a Igreja. Aliás, os templos estão espalhados por todas as regiões do país, em cidades e povoados, por mais distantes que estejam dos grandes centros. E Alagoas não é exceção.

Em praticamente cada bairro de Maceió há um templo da Universal. Evangélicos que vão a esses lugares semanalmente estão recebendo “santinhos” de candidatos estaduais. No verso, tem a “cola” – espaços já preenchidos com os números das candidaturas. O 17 de Jair Bolsonaro está lá.

Pelos relatos que ouvi diretamente de seguidores da religião, a pregação de pastores também deixa clara a indicação para votar no candidato a presidente escolhido pelo chefe da Universal. Eles insinuam que o petista Fernando Haddad, se eleito, destruiria os valores da família tradicional.

“O pastor falou que o PT quer que cada criança decida por conta própria, aos oito anos de idade, se vai ser homem ou mulher”. Ouvi exatamente essas palavras de uma senhora, assustada com a “ameaça” que o candidato Haddad representa. É assim que a gente escolhe o futuro presidente.

É certo que esse tipo de discurso também é reproduzido por alas do catolicismo. Vejam aí um candidato a deputado que vive esbravejando na TV a seguinte pérola: “Maria é minha mãe”. Por trás da patetice, a mesma jogada de distorcer fatos para enganar a boa-fé de quem segue uma religião.

Agora a televisão do bispo Macedo. Já era fácil constatar a adesão à candidatura Bolsonaro por ali. Mas isso ficou escancarado na noite desta quinta-feira. Numa incrível sintonia com o candidato, o “jornalismo” da Record decide entrevistá-lo no mesmo horário do debate da Rede Globo.

Como o capitão não participa do debate por recomendação médica, tramou alguma coisa para fazer barulho no momento em que os demais candidatos estivessem no ar. A princípio, ele faria um vídeo pela Internet. Mas aí surgiu uma ideia melhor: por que não entrevista na Record TV?

Juntou a sagrada fome com a profana vontade de comer. Essa tabelinha entre religião e política, entre igreja e meio de comunicação, é claro, terá um peso na urna. Seja como for, pesquisa Datafolha divulgada esta noite confirma segundo turno com Bolsonaro e Haddad. Ao debate. Volto depois.