Jair Bolsonaro tem oito segundos em cada bloco dos programas de propaganda eleitoral exibidos à tarde e à noite na TV. Os presidenciáveis podem aparecer às terças, quintas e sábados. Além disso, claro, há as inserções diárias ao longo da programação televisiva. A cada temporada eleitoral, candidatos e partidos fazem o diabo para garantir o maior tempo possível de presença na televisão.
Mas o peso da TV na decisão do eleitorado já era. Se não evaporou de vez, perdeu a força descomunal que sempre teve, principalmente nos tempos antes da Internet. A novidade se impôs primeiro nos Estados Unidos, com a eleição de Barack Obama, e se mostrou avassaladora, dois anos atrás, com a vitória de Donald Trump sobre Hilary Clinton. É o novo mundo das redes sociais.
A bordo de uma legenda nanica, dessas que a imprensa chama de “partido de aluguel”, Bolsonaro e seu PSL são a evidência mais relevante desse universo (virtual) vertiginoso que transformou as relações pessoais e alterou para sempre o jeito de se fazer política. Política, aqui, em sentido amplo, não apenas a atividade partidária, mas todo o tipo de militância, em nome de qualquer demanda.
Em comparação a seus principais adversários, Bolsonaro não tem quase nada de tempo de propaganda na TV. O que em eleições passadas seria uma tremenda restrição para falar com o eleitor, hoje isso não faz sentido. Afinal, todo mundo está no ar, online, 24 horas por dia, falando com todo mundo ao mesmo tempo. É só dar um click, e a troca de informações explode por aí.
Claro que os debates na TV são importantes, mas não têm hoje – de jeito maneira – um grama do peso que já tiveram em disputas eleitorais. O cara pode comparecer ou não, e isso não terá maiores consequências. Além do mais, ocorrem debates quase todos os dias – nos jornais, nas rádios, nos portais, e tudo sendo transmitido pela Internet. Os vídeos ficam disponíveis na web a quem quiser.
Acabamos de ver a Globo realizar debates em todo o país nas eleições para governador. Nesta quinta-feira, será a vez do encontro entre os presidenciáveis. Vendendo seu peixe, a emissora faz toda uma exaltação aos eventos, apresentados como “decisivos” para o eleitor escolher seu candidato. É como se o brasileiro estivesse só aguardando o último debate para cravar seu voto.
Me engana que eu gosto! Nada disso ocorre. A audiência televisiva está em franca decadência em todos os continentes. Ninguém está no sofá, na poltrona, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando o debate da Globo chegar, para então fazer sua escolha na eleição. Isso é fantasia.
E Jair Bolsonaro é a prova dos novos tempos, em que a Internet se impôs com uma inédita capacidade de interação entre você e tudo o mais que existe nessa vida. A propósito, ele não vai ao debate da Globo por recomendação médica. Não perderá nada com isso. Porque tudo mudou!