Jair Bolsonaro quer impedir circulação da revista VEJA

30/09/2018 05:50 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Olha aí Jair Bolsonaro, mais uma vez, dando provas de sua alma democrática... O comando de campanha do capitão quer recolher das bancas a última edição da revista VEJA, que acaba de revelar fortes indícios de mutreta no patrimônio declarado pelo candidato ao TSE. (Os conservadores da “direita moderna e liberal” das Alagoas devem concordar plenamente com a medida). O PSL, partido do candidato, entrou com uma notícia-crime no Ministério Público do Rio de Janeiro.

A intenção é um flagrante atentado à liberdade de imprensa, coisa típica dos regimes totalitários. Mas Bolsonaro e sua tropa dizem por aí que isso nunca existiu no Brasil. Para eles, a ditadura militar deflagrada com o golpe de 1964, que durou 21 anos, foi até branda com os “rebeldes”. A revista lembra da única vez em que seus exemplares foram apreendidos pelos ditadores. Diz o site de VEJA:

A última vez que VEJA teve sua circulação proibida foi em dezembro de 1968, quando os militares mandaram apreender todos os exemplares da revista cuja capa trazia, poucos dias depois da decretação do Ato Institucional número 5 (AI-5), uma foto do então presidente Arthur da Costa e Silva sentado sozinho no Congresso. A imagem era um símbolo perfeito do momento em que o regime militar entrava em seu período mais duro. No site, VEJA lembra outro episódio de cerco à liberdade:

Houve outros momentos em que se tentou – sem sucesso – recolher VEJA das bancas. Em 1992, quando a revista publicou a capa Pedro Collor conta tudo, em que Pedro Collor revelava detalhes da sociedade secreta entre o então presidente Fernando Collor e seu tesoureiro PC Farias, houve uma tentativa. Collor entrou na Justiça com uma ação para apreender as fitas com a entrevista gravada e tentar inviabilizar a publicação da reportagem – mas ele acabou recuando da ação.

A VEJA acaba de completar 50 anos de existência. Nasceu no olho do furacão, num país assaltado pelos trogloditas dos tanques, da tortura e dos assassinatos de todos que combatessem o regime. Como toda a imprensa, sofreu censura ostensiva, com milicos ocupando as redações, para decidir, na marra, o que seria ou não publicado. Bolsonaristas têm uma saudade profunda daqueles tempos.

Bolsonaro consegue a proeza de escancarar seu ódio à liberdade de imprensa ainda na condição de candidato. Imagine o que esse estrupício seria capaz de fazer na hipótese de vencer a eleição. É um padrão clássico: para esse tipo de gente, boa imprensa é a imprensa a favor, que silencia sobre as mazelas perpetradas por bandoleiros que chegam ao poder. Democracia, para ele e sua patota, é só uma frescura, coisa desse pessoal que se preocupa com “baboseiras” como direitos humanos.

O que está em jogo nas eleições marcadas para 7 de outubro é precisamente o respeito a valores que garantem a convivência civilizada entre ideias divergentes, por mais duros que sejam os debates entre adversários, de quaisquer tendências. Mas, insisto, nada disso entra na cabeça de alguém que  já defendeu abertamente a eliminação de presos políticos no regime militar. Bolsonaro é um lixo.

É por isso que, ainda que a imprensa cometa erros graves, e que precise ser mesmo criticada com ênfase por suas eventuais falhas, nunca a sociedade ganhará nada com a mordaça ao jornalismo livre. Quando isso ocorre, já era. Jornais e revistas nas bancas. Internet para todos. Hoje e sempre!

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