Domingo das caminhadas diárias. Ele está defronte a Igreja Divino Espírito Santo, no bairro da Jatiúca, em Maceió,AL, visivelmente drogado, e me chama:- Moça, por favor, venha aqui.
Como penso que vai me pedir dinheiro, aviso-lhe que não o tenho. E ele:- Não é isso. Eu sei quem é a senhora e quero saber se vai votar naquele candidato.
Interessada recuo a pressa. Paro para escutá-lo.
E novamente engata a conversa. Fala enfático: Aquele candidato, (a mente falha ao tentar lembrar o nome, e o ajudo a lembrar, Bolsonaro-digo), não gosta de gente da nossa cor, e além do mais quer acabar com a consciência negra, a Serra da Barriga e tudo que fala da nossa história.
Ouço interessada a lucidez de argumentos e as palavras precisas. É um homem negro devastado pelos tempos na rua. Busco saber sua história. Tenho 43 anos e há 18 moro na rua. Tenho profissão moça. Sou serralheiro, pintor.
Intervenho na sua fala: Você usa droga, né?
Ele:- Sim. Faz 30 anos que uso drogas, comecei com 13 anos. A droga me tirou tudo. Tenho família em todo canto. Em Pernambuco, Sergipe, aqui em Alagoas. É um monte de gente.
E eu, interrompendo:- Mas, mora na rua.
Ele:- A droga me tirou tudo, moça. Tudo. Menos a consciência. A senhora não vai votar naquele candidato, vai?- Reafirma seu temor.
Afirmo que não. Pergunto se posso tirar uma foto ele se recusa. Agradeço a conversa, e sigo meu caminho.
Ele ficou lá, catando alguns sonhos pra viver.