O petista Fernando Haddad é acusado de supostamente ter se beneficiado de fraude em contrato quando era prefeito de São Paulo. O tucano Geraldo Alckmin teria embolsado algum tipo de propina durante sua gestão no governo paulista. E outro tucano, Beto Richa, foi preso esta semana também acusado de embolsar verba pública como governador do Paraná. O que os três casos têm em comum? É simples. Os fatos que provocaram as investigações são tão antigos quanto a marmota.

No caso de Haddad, as acusações foram feitas em 2013, nada menos que cinco anos atrás. A motivação para denunciar Alckmin agora está ligada a acontecimentos de 2014, ou seja, lá se vão quatro anos. E as suspeitas sobre o paranaense Richa, vejam só, foram relatadas em 2011 e 2012 – é a situação mais antiga das três. Fica a dúvida cruel: por que somente agora promotores do Ministério Público Federal decidiram denunciar seus alvos como perigosos bandidões da política brasileira?

O problema é que os alvos da valentia de ocasião do MPF são dois candidatos a presidente e um candidato a senador. E a manifestação dos promotores ocorre – eu considero isso escandaloso – a menos de um mês do primeiro turno das eleições. E eles querem nos fazer acreditar que tudo não passa de uma coincidência praticamente sobrenatural. Nada tem a ver com viés eleitoral.

Luiz Fernando Bandeira de Mello Filho, conselheiro do Conselho Nacional do Ministério Público, enxergou o óbvio: é uma coincidência bastante suspeita. Depois de seu pedido, o CNMP decidiu investigar a atuação dos promotores e procuradores envolvidos nos três episódios citados. A apuração deve esclarecer se os garotões do MPF agiram motivados pelo calendário das urnas.

É claro que os menudos da Lava Jato de Curitiba não aceitam nenhum questionamento a suas peraltices. Imediatamente soltaram nota para atacar o conselheiro e requentar a velha piada de que não podem ser “amordaçados” na missão de salvar o país dos corruptos. É uma distorção da realidade para enganar os tontos. Devem ser investigados sim, porque tudo isso cheira mal.

O que temos afinal? Temos um grupo de privilegiados na vida pública nacional que decidiu tutelar a política, as instituições e a sociedade. Para tanto, esses senhores abusam da retórica alarmista de que somente patriotas como eles podem dar um jeito no Brasil. É a filosofia dos arautos da Lava Jato.

As três ações que analiso aqui combinam com as recorrentes manifestações de figuras como Deltan Dallagnol e Carlos Fernando, a dupla mais celerada desde que a patota se arvorou a guardiã de fachada da moralidade nacional. E, nessa ridícula toada, querem influenciar o voto dos cidadãos.

Para fechar, é preciso muita inocência para acreditar que as iniciativas, nestes três casos, se devem ao curso natural das investigações. Faltando três semanas para a eleição?! Não dá. A lógica nos garante que estamos diante de uma operação armada por conveniência. É apenas vergonhoso.