O atentado contra Jair Bolsonaro, o candidato a presidente da República pelo PSL, mudou a eleição – mas ninguém tem certeza sobre o impacto nas intenções de voto. Se der a lógica mais elementar nesses casos, Bolsonaro deve subir nas próximas pesquisas. O Datafolha publica novo levantamento na segunda-feira 10. A menos de um mês para a votação, o episódio derruba estratégias. 

Ciro Gomes, Marina Silva e Geraldo Alckmin reavaliam o tratamento dispensado a Bolsonaro até agora na propaganda da TV. Não podem continuar batendo como faziam até ontem. É evidente que pega muito mal partir pra cima de quem, sendo vítima, não pode ser alvo de outra coisa que não solidariedade. Por isso, o líder da corrida deve sumir da propaganda dos demais candidatos.

“Acabam de eleger meu pai”, disse um dos filhos do deputado logo após receber a notícia sobre a tentativa de homicídio contra Bolsonaro. Como disse, é a lógica natural das coisas. Uma comoção pode provocar mudanças improváveis, criando um novo fator, imune ao controle e planejamento geral, com o qual vai se lidar agora de modo mais intenso. É o que explica a frase otimista do filho.

A facada em Bolsonaro muda também o coração da cobertura da campanha pela imprensa – Curitiba, o PT e Lula perdem o protagonismo absoluto nas manchetes e colunas de opinião. E ainda que o destino da candidatura lulista seja etapa crucial no jogo, o palco foi dividido como jamais se daria em condições de normalidade. O crime, em resumo, pode ser mesmo decisivo nas urnas.

Os adversários repudiaram o ataque a Bolsonaro. Todos se esforçaram em usar termos enfáticos nas manifestações. A grande imprensa exibiu os vídeos que o candidato gravou no leito hospitalar, reproduzindo uma imagem com evidente apelo emocional e senso de oportunidade. O drama de um esfaqueado virou texto de campanha aberta – e de maneira legítima, sem nada de errado, na lei.

Falei dos efeitos do atentado na eleição. Desde a divulgação do episódio, duas correntes predominam nos textos de articulistas na imprensa brasileira. Para um grupo, é a ilustração de um tempo de ódio e intolerância. Para outro grupo, é um gesto isolado, sem conotações políticas ou ideológicas, praticado por alguém fora de órbita. É conflito. Falo sobre esse aspecto no próximo post.