O presidenciável Geraldo Alckmin anda preocupado com “traições” estaduais. A campanha do tucano acaba de tomar medidas para monitorar partidos que integram a coligação nacional com o PSDB, mas regionalmente apoiam outros candidatos ao Planalto, como Lula-Haddad e Ciro Gomes. A situação mais grave está aqui no Nordeste. O problema é como evitar o escancarado jogo duplo.
Este é mais um fenômeno recorrente nas eleições. Os acordos que valem para Brasília, muitas vezes, não combinam com os interesses dos caciques em suas bases eleitorais. E não adianta o grito de cima para baixo. É a lei da sobrevivência no curto prazo. No quadro atual, a candidatura petista lidera as intenções de voto com vantagem muito mais ampla entre os nordestinos. O tucano já era.
Antes de comentar essa tradição na disputa alagoana, uma lembrança sobre o que houve num passado remoto. Na primeira eleição para presidente após a ditadura militar, em 1989, o candidato do PMDB, Ulysses Guimarães, foi abandonado no meio do tiroteio por seus partidários; e ele era praticamente uma lenda viva na política brasileira – o grande Senhor Diretas.
Agora, a traição ao modo alagoano. Dada a largada na corrida para o governo estadual, uma das prioridades dos candidatos é conquistar o apoio do maior número possível de prefeitos. E logo começamos a ver a campanha de cada um anunciar que tem a seu lado dezenas e dezenas de chefes municipais. Como são 102 prefeituras, a conta festiva explode a matemática mais rudimentar.
Se um candidato diz contar com 60 prefeitos aliados, outro garante a parceria com 45, e um terceiro apresenta seus 30 apoiadores pelo interior afora, jamais chegaremos à verdade dos fatos. Tem alguém contando mentira para o eleitor? Nem sempre. O mais provável é que o prefeito faça juras de amor a dois ou mais postulantes ao governo. É o que ocorre precisamente agora na atual disputa.
Repare numa cena corriqueira. Num sábado, o prefeito recebe em sua cidade um dos candidatos a governador; sai com ele em caminhada, distribui afagos, sobe em palanques e compartilha promessas ao povo. No domingo, o adversário do visitante da véspera chega ao município para fazer campanha – e haverá o mesmo ritual de 24 horas atrás. É natural. A política é coisa de outro mundo.
Convenhamos que os prefeitos ficam numa situação nada confortável. No caso concreto de agora, nenhum deles está disposto a comprar briga com os dois postulantes principais. Sabem que não será saudável virar inimigo do atual governador, mas também não querem ficar mal com o adversário que pode se eleger. É uma escolha que eles não gostariam de fazer, assim tão abertamente.
Resta uma espécie de diplomacia de conveniência: o prefeito dará um forte abraço em Renan Filho com a mesma empolgação de um abraço em Fernando Collor. A tecnologia deixou a equação mais tensa. Anos atrás, dava para pular a cerca discretamente. Hoje, com o estardalhaço das redes sociais, é impossível manter a traição na moita. Está aí uma novidade e tanto nas eleições 2018.