O debate público sobre os rumos do país, em grande medida, é um festival de ideias inúteis disfarçadas de propostas consistentes. As maiores besteiras, quando não cretinices, são anunciadas com pose e solenidade. É assim em tempo integral, mas a coisa chega ao paroxismo em época de eleições. É impossível separar o que seriam metas de slogans de campanha. Vou listar exemplos.

Refundar a República. Esta é, digamos assim, uma diretriz de ordem quimérica. O sujeito que sai por aí defendendo uma coisa dessas deveria ser preso em flagrante. É estelionato puro. Platitudes servem apenas para esticar discursos vazios, que nada significam para nossa vida real.

Cuidar das pessoas. Eis aí uma bela proposta de governo que não é inédita. Tamanha pilantragem intelectual vai e volta a cada campanha eleitoral no país. Mais uma vez, está na ordem do dia para muitos candidatos. De tão recorrente, daqui a pouco será defendida até como projeto de lei.

Menos Brasília, mais Brasil. Isso quer dizer que o candidato pretende descentralizar a gestão dos recursos públicos – ou algo por aí. Falta explicar como se daria, na prática, essa inversão de prioridades. É mais uma expressão cuja origem só pode ser a cabecinha oca de algum marqueteiro.

Ajustar as contas. Sim, o Estado brasileiro gasta mais do que arrecada e gasta de maneira errada. “É como a dona de casa. A senhora sabe que na feira tem de comprar aquilo que seu orçamento pode cobrir”. Você já ouviu essa brincadeira como se fosse algo muito sério, não é? Continua na moda.

Educação é base de tudo. Aqui temos mais um clássico no discurso de cem por cento da politicalha nacional. Todo mundo vai, finalmente, promover a grande revolução brasileira pelos bancos escolares. É assim desde os primórdios, mas seguimos formando analfabetos em larga escala.

Integração das polícias. Numa guerra civil não declarada, com mais de 60 mil homicídios num único ano, o Brasil não sabe o que fazer com a segurança pública. Mas, para os candidatos, é muito simples: basta um trabalho integrado, com inteligência, e tudo certo. E ninguém tinha pensado nisso!

Valorizar o servidor. De olho no voto de um segmento gigantesco, nenhuma candidatura é doida ao ponto de magoar esse exército instalado na máquina estatal. De concreto mesmo, depois de eleito, ninguém mexe uma vírgula para corrigir aberrações que, de fato, envenenam a coisa púbica.

Retomada do crescimento. É fórmula mágica para gerar milhões de empregos e elevar a renda do brasileiro, garantem candidatos à esquerda e à direita. De tão óbvio, ninguém é contra isso, ora. Então por que até hoje não conseguimos resolver o dilema? Porque eleição é circo e diversionismo.

Combater a ciranda financeira. Na campanha, todos os candidatos partem pra cima dos bancos e seus lucros indecentes. Prometem o fim da especulação descontrolada, que torna os ricos ainda mais ricos. Prometem taxar as maiores fortunas e as grandes heranças. E ficamos com as promessas.

Desenvolvimento sustentável. Outro reencontro com o passado de eleições. Na onda verde-vegana, bonito é defender os rios, as matas e as jaguatiricas. Na contramão do falatório, avançam todos os tipos de agressão ao meio ambiente. Ao contrário da promessa, eis aí o retrocesso insustentável.

O conjunto das patifarias forma uma obra em permanente expansão. Uma olhada pelo noticiário, e você pode acrescentar incontáveis “propostas” que se enquadram na lista acima. Depois, é votar.