As coisas mudam o tempo todo, mas não é bem assim. A cada eleição, por exemplo, a gente reencontra os mesmos temas, embalados na mesma dissimulação, numa reiterada forma de fazer a velha política. Basta ver as entrevistas e os debates com os candidatos. É quase desesperador aguentar jornalistas fazendo surradas perguntas como se fossem uma incrível novidade.
Se a imprensa, em tantas ocasiões, não escapa da mesmice, os políticos à caça de votos são imbatíveis nesse quesito. Impossível catalogar tudo. O exemplo mais urgente que me ocorre agora é a seguinte questão: pergunta-se ao candidato a presidente se, caso eleito, ele nomeará para os ministérios gente da área, técnicos, ou vai escolher indicados pelos partidos da coligação.
Essa discussão é um verdadeiro clássico em campanhas eleitorais. A resposta costuma ser mais ou menos assim, na fala do postulante: comigo, vai acabar essa tradição de apadrinhados nos órgãos de governo; não se pode usar um ministério como “boquinha” para os amigos. É com esse discurso que todos garantem um governo absolutamente armado sob o exclusivo critério da meritocracia.
Quando acaba a eleição, e o vitorioso anuncia sua equipe, a lorota da qualidade técnica cede lugar ao pré-histórico pragmatismo das alianças partidárias – tudo em nome, claro, da tão almejada “governabilidade”. Diante do estelionato, não adianta cobrar coerência dos novos governantes. A reação será a fantasia retórica, tão antiga quanto todas as promessas que serão descumpridas.
Isso vale também, naturalmente, para os governos estaduais e prefeituras. Por aqui, se você olhar em volta, vai constatar o quanto nossos gestores seguem à risca esse padrão escandaloso. É claro que os partidos poderiam oferecer quadros de talento para ocupar os cargos de comando, mas isso fica mesmo no plano das divagações. Os nomeados, muitas vezes, parecem aptos só a bandalheiras.
E olhe que nem falei ainda do nepotismo, que continua bizarramente na moda pelo país. Em governos e prefeituras, é infernal a tropa de mães, irmãos, sobrinhos, marido e mulher, parentes e contraparentes. Sim, nepotismo é proibido por lei, mas e daí? É para isso que há “brechas jurídicas”.
Sei que existe, aqui e ali, algum milagre como exceção. Infelizmente, quase nada perto da manada de incapazes e delinquentes que domina os postos vitais na gestão da coisa pública. Sempre foi assim. Continua assim. E assim continuará após o resultado das eleições neste 2018, no século 21.
Pessimismo, frustração e desencanto com a política? Nada disso. Não escrevo sobre essas escamas metafísicas que mobilizam os espíritos patriotas que vagam por aí. Minha pauta é a vida real. Vamos a uma escolha tão simples como sempre foi: nas urnas, nossa tarefa é eleger o menos ruim.