O Comitê de Direitos Humanos da ONU recomendou que o Brasil permita a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. A entidade internacional apela ao Estado brasileiro que “tome todas as medidas necessárias para garantir que Lula desfrute e exercite seus direitos políticos como candidato das eleições presidenciais de 2018”. O que isso pode representar na campanha eleitoral?
Antes de chutar alguma resposta, ressalto que, mais uma vez, a grande imprensa dá tratamento enviesado a um fato de repercussão mundo afora. No Jornal Nacional não houve reportagem sobre o assunto. A emissora se limitou a uma nota, sem imagem nem entrevistas. O mesmo se verifica hoje na capa dos jornais. A notícia passou longe das manchetes e dos títulos em destaque.
É uma tática amplamente conhecida – e adotada – quando veículos de comunicação decidem sonegar espaço a determinado tema que não lhes interessa. E não importa, como disse, que a notícia esteja nos maiores jornais do mundo. Se Lula é inocente ou culpado, não interessa aos donos da narrativa imposta hoje por setores do Judiciário, do Ministério Público Federal e da imprensa.
O único problema para consolidar uma distorção dos fatos como realidade é que acabou o tempo da voz única e incontestável. Com a Internet, uma edição do Jornal Nacional que manipula um acontecimento tem tudo para ser desmoralizada em algumas horas. É o que está ocorrendo precisamente agora, depois que a Globo, de novo, trata a informação de maneira vergonhosa.
Mas, afinal de contas, a decisão do comitê da ONU terá algum efeito na disputa eleitoral? Ainda que Lula continue preso e seja declarado inelegível – como vai ocorrer mesmo –, a resposta é sim. O candidato do PT reitera sua condição de vítima de um processo sem provas, levado adiante na base do atropelo da lei, sobretudo de princípios essenciais da Constituição. Porque foi isso o que ocorreu.
Barrado como candidato, Lula no papel de perseguido político é tudo o que o PT precisa para tocar sua música. Já aparecem as primeiras pesquisas que indicam o crescimento de Fernando Haddad, o Plano B do partido. Os dados indicam que a transferência dos votos de Lula pode ocorrer em grau suficiente para levar Haddad ao segundo turno. E aí, as chances de vitória são elevadas.
É por isso que os celerados no MPF e no Judiciário querem passar por cima de todos os prazos e declarar (ontem, se fosse possível) a inelegibilidade do velho sapo barbudo. Nenhuma novidade. É a mesma sanha que se viu na atuação do juizinho da Lava Jato para condenar o ex-presidente no caso do apartamento. E mesmo com toda essa operação, Lula segue determinando os rumos da corrida.
Chovendo no molhado: o país terá uma eleição em panorama inédito na política brasileira. O ambiente de terra arrasada, cultivado por tranqueiras que deveriam zelar pelas instituições, cedeu o palco para cretinos de todos os matizes – milicos, carolas e togados, entre outros. Jair Bolsonaro, mesmo que perigoso, é só a parte mais tosca da novela, verdadeira chanchada nacional.