Fechadas as alianças na eleição para presidente, nota-se o esforço, de todos, para apresentar uma dupla que fale aos mais diversos segmentos. Em dias de empoderamento feminino, por exemplo, a mulher tem de ocupar lugar de destaque. Essa preocupação ficou evidente nas negociações para definição de nomes. Nem todos conseguiram construir essa diversidade nos palanques.
Se Geraldo Alckmin vai com a senadora Ana Amélia para vice na chapa presidencial, Ciro Gomes terá a também senadora Kátia Abreu. No caso do ex-governador do Ceará, ele escolheu um nome de seu próprio partido, o PDT, após ficar sozinho, sem uma aliança ampla como o adversário tucano. Alckmin tem na vice uma representante do Progressistas, um de seus muitos partidos aliados na aventura.
Isolamento mesmo bate num dos candidatos que lideram a corrida, o capitão Jair Bolsonaro. O vice do presidenciável do PSL é o general Hamilton Mourão, do nanico PRTB. Aliás, é um casamento de duas inexpressivas legendas partidárias. Além disso, mesmo de siglas diferentes, esta é uma espécie de chapa puro-sangue. Dois militares na dobradinha indicam um fracasso de Bolsonaro, está claro.
Por que é um fracasso? Essa é fácil. Porque uma parceria deve juntar tipos diversos, que sejam complementares. Um deve acrescentar qualidades ao outro. Se temos duas cabeças rigorosamente com as mesmas perturbações, a capacidade para o diálogo com outra faixa de eleitorado está definitivamente comprometida. O candidato, porém, não tinha mais opções a esta altura.
Bolsonaro até que tentou. Assim como seus rivais, convidou uma mulher para vice, mas a advogada Janaina Paschoal rejeitou. Mourão, vamos dizer, pode ser considerado um replicante da personalidade de seu presidenciável. Os dois significam uma overdose de truculência e nulidade intelectual. Para as viúvas da ditadura militar (muitos são jovens), está uma lindeza.
Quem diria que, mais de 30 anos após o fim do regime fardado, que torturou e assassinou tantos brasileiros, teríamos tamanho retrocesso. Parece inacreditável que o país cogite a Presidência da República nas mãos de gente com aquelas ideias. Não tem nada de “História que se repete como farsa”. Isso é apenas clichê para analistas preguiçosos que precisam de muleta retórica.
Andamos para trás, isto sim. Espero que a sanha de certos “cidadãos de bem” esteja no teto. A candidatura das trevas não parece ter mais espaço para crescer. Os lances das últimas semanas, que levaram ao isolamento partidário de Bolsonaro, são alguns indícios dessa hipótese. E quanto mais o candidato aparece, mais suas fragilidades ficam expostas com clareza. É gritaria e nada mais.
As entrevistas do capitão no Roda Viva (da TV Cultura) e na Globonews escancararam a inexistência de vida inteligente no sujeito. Na Internet, a zoada pra cima dos entrevistadores, dos dois programas, é uma campanha, em boa medida espontânea – manada vai no automático –, espalhada por seus fanáticos seguidores. Bolsonaro não precisa de jornalista para acusá-lo de nada.
Ele mesmo, quando exposto ao pensamento lógico, torna-se automaticamente a pior ameaça contra sua própria candidatura. Seus eleitores aderem a qualquer sandice em nome do combate à “ameaça comunista”. Para essa galera, como já notei aqui, até a Globo é “esquerdista”. Nossa Senhora!