Um sábado muito louco na política brasileira. Virtualmente inelegível, Luiz Inácio Lula da Silva teve sua candidatura presidencial confirmada em convenção do PT. Nos discursos, as lideranças da sigla dizem que não pode haver eleição sem o ex-presidente e que haverá “luta até o fim” para manter seu nome na urna. Mas todos sabem que isso não tem chance nenhuma de ocorrer.

Durante a convenção, os presentes ouviram uma mensagem, que foi lida no palanque, enviada por Lula diretamente da carceragem da Polícia Federal em Curitiba, onde o petista está preso desde o dia 7 de abril. Para alguns analistas, a insistência de Lula e do PT é uma tática suicida. Acabou isolando a legenda numa aposta que não tem futuro ao invés de viabilizar aliança com outro nome.

Nessa lógica, seria o caso de o PT fechar com Ciro Gomes como candidato, por exemplo, indicando o vice na chapa. Era o sonho do ex-ministro e ex-governador do Ceará. Mas deu tudo errado. Lula não apenas repudia essa alternativa como ainda trabalhou para sabotar uma quase certa aliança entre o PDT de Ciro e o PSB. Sai todo mundo perdendo e adversários em comum festejam.

Na convenção do PDT, também hoje, Ciro partiu para o ataque dizendo que “a cúpula do PT está numa viagem lisérgica”, deixando claro o tamanho do estrago entre as partes. Aquela velha história de frente de esquerda, que nunca foi lá uma possibilidade pra valer, está morta. Sem falar que Ciro, também ele um camaleão, correu atrás da direita, mas acabou sendo igualmente descartado.

Em outra praia, Janaina Paschoal, a advogada do impeachment de Dilma, anunciou que não será a vice na chapa de Jair Bolsonaro. Alegou que sua família não poderia se mudar para Brasília no caso de vitória do candidato. Usando as redes sociais, ela fez questão de reafirmar seu apoio ao nome do PSL, jurando que ele não é machista nem autoritário. A recusa provocou irritação entre bolsonaristas.

O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin também foi confirmado em convenção com um balaio de partidos. Além do seu PSDB, formam a aliança outras oito legendas, entre elas o PP, de onde saiu a senadora Ana Amélia para vice. No encontro, tucanos se disseram “apaixonados” por ela, a “vice dos sonhos”. Amélia foi tratada como a “cereja do bolo” na aventura rumo ao Planalto.

O sábado também foi dia de convenção para Marina Silva (Rede), Álvaro Dias (Podemos) e João Amoêdo (Novo). No lançamento da candidatura de Dias, ele veio com uma brincadeira. Disse celebrar a República de Curitiba e anunciou que, se eleito, convidará o juiz Sérgio Moro para ministro da Justiça. Procurado pela Folha, o magistrado informou que não iria comentar a piada.

Nas convenções estaduais, o senador Romário foi confirmado como candidato a governador pelo Rio de Janeiro. Já em Belo Horizonte, acabou em pancadaria o encontro do PSB para lançar Márcio Lacerda ao governo de Minas, vetado pela própria cúpula do partido após aquele acordo com o PT.

Para fechar essa resenha da política brasileira, um detalhe sobre a convenção de Alckmin: uma das atrações foi Tiririca. Ele havia anunciado que, após dois mandatos como deputado federal, não disputaria as eleições. Mudou de ideia em nome de um país melhor. Tenha fé, que o Brasil avança.