Neymar Junior é uma simulação até quando se manifesta para supostamente pedir desculpas pelas simulações. É perfeito que, para isso, ele conte com a falsidade inerente à propaganda. Neymar, o indivíduo, não existe. É um produto comercial em tempo integral. O texto que ele mal consegue soletrar é um modelo sem retoques do pensamento que norteia os poetas do mundo publicitário.

Eu sei que quase tudo já foi dito sobre o anúncio estrelado pelo craque da cabeça oca. Li na imprensa, e vi nos debates televisivos, avaliações como “vergonha alheia”, “completa falsidade”, “desfaçatez”, “prepotência”, “ideia de jerico”, “tiro no pé”, entre tantas classificações para o que se vê na tela. É tudo isso mesmo. Nada se salva na armação mercadológica do “menino”.

Mas há aqueles que, embora critiquem o fato de o jogador recorrer a um comercial para “pedir desculpas”, vejam qualidades no texto. Pelo que entendi, basta que a coisa seja produto de redatores e marqueteiros, para que se ateste a suposta consistência daquelas palavras. Não é nada disso, porém, o que se tem ali. A peça é uma enxurrada de baboseiras e nenhuma originalidade.

“A real é que eu sofro dentro de campo. Agora, na boa, você não imagina o que eu passo fora dele”. Esse é um dos trechos gaguejados pelo atacante. Ao contrário do que escreveram os redatores, todo mundo sabe o que Neymar vive fora dos gramados – afinal, ele conta toda a sua rotina nas redes sociais. Seu padrão de vida é a futilidade que rege o cotidiano de famosos doentes pela aparência.

O momento alto (ou seja, o mais baixo) é quando ele diz que “demorou para se olhar no espelho”, mas agora ele é “um novo homem”. Na sequência afirma que “agora, está de cara limpa, de peito aberto”. E fecha, com a boçalidade extrema: “Quando eu fico de pé, parça, o Brasil inteiro levanta comigo”. Bom, os “parças” devem ter adorado a mensagem para eles, sem dúvida.

O anúncio deveria traduzir uma postura de autocrítica e humildade – ao menos seria esse o grande objetivo. Mas está claro que o texto diz exatamente o contrário. Neymar acha que é o centro do Brasil. Todos estamos aqui esperando por ele para, com seu exemplo, também nos levantarmos e tocar o dia. É realmente de uma prepotência sem limite. E esse “de cara limpa”?

Se existe algo que jamais ocorre numa mensagem publicitária é alguém de “peito aberto”. Tudo na publicidade é maquiagem, dissimulação, verniz para encobrir os fatos reais. Um anúncio quer vender, existe para despejar dinheiro na conta bancária de alguém. E uma equipe inteira de marqueteiros e assessores quer nos convencer que existe alguma autenticidade nessa piada. Chega a ser ofensivo.

Depois de ver o “desabafo” que rendeu ao “novo homem” alguns milhões de dólares, temos uma certeza incontornável: ele não mudou nada, não aprendeu nada, continua sem nada dentro dessa cabecinha de bagre. A iniciativa publicitária é só uma porcaria que celebra o velho Neymar Junior.