O obscurantismo avança. A Polícia Federal em Santa Catarina toca uma investigação sobre um ato ocorrido na Universidade Federal daquele estado. Os alvos são a Reitoria e professores que fizeram uma homenagem ao ex-reitor Luiz Carlos Cancellier, que cometeu suicídio após ser acusado na Operação Ouvidos Mocos, da PF. A operação foi deflagrada em setembro do ano passado.

Até hoje, não apareceu uma miserável prova que sustente as acusações da PF contra Cancellier. Ele deixou um bilhete no qual defende sua inocência e culpa a operação policial por seu gesto de desespero. Agora, as autoridades em SC, responsáveis pelo lixo com o qual tentaram desonrar o então reitor, querem também amordaçar as vozes críticas na universidade.

O pretexto da investigação contra os professores é de que houve ataque à dignidade da delegada que chefiou a Ouvidos Mocos. Ela e outros elementos da PF se sentiram ofendidos, vejam só, com a livre manifestação de representantes da comunidade universitária. Na verdade, o que temos é uma investida para intimidar aqueles que ousaram defender a trajetória do reitor Cancellier. 

É o espírito desses tempos. É a demonstração cabal de como essa turma aderiu escancaradamente ao abuso sobre os direitos básicos de qualquer cidadão. É o Brasil da Lava Jato, de Sérgio Moro e de Jair Bolsonaro. É o Brasil em que Rambos da PF e xerifões do Ministério Público pretendem o poder absoluto, sem obediência à Constituição, atropelando princípios básicos da democracia.   

Ora, todo santo dia, algum promotor, agente federal ou delegado vai às redes sociais para vomitar insultos contra incontáveis autoridades, em todas as esferas da República. Basta que alguém faça qualquer restrição aos atos desses heróis, e pronto: será achincalhado até a quinta geração. Eles acham que podem tudo. E acham que estão acima de qualquer crítica, como reis intocáveis. Piada.

Ainda que houvesse alguma prova contra Cancellier, o ato na UFSC seria inequivocamente legítimo. Mas, vou repetir, é bom que fique claro: não há nada, nem uma vírgula que desabone sua conduta, segundo a investigação bosta feita pela PF. A operação foi uma mentira, um carnaval grotesco, que inventou números e cifras, toscamente fantasiosas, para incriminar um homem inocente.

A iniciativa de agora da PF, tão ridícula quanto arbitrária, ao menos serve para algo positivo: expor de modo cristalino, além do autoritarismo, as ilegalidades a rodo que estão sendo cometidas no país nos últimos anos. Criminosa, isto sim, é uma apuração que se orienta por fatos inexistentes e falsidades que afrontam o Estado de Direito. Contra essa aberração, todos os protestos. Sempre.