A procura por um candidato a vice-presidente provoca tumultos e revela a essência – despudorada – do jogo político brasileiro. Até agora, quase nenhum dos presidenciáveis apresentou o parceiro na chapa eleitoral. As negociações entre as lideranças partidárias trazem a público as maiores bizarrices, com alternativas que mais parecem com aquilo que costumamos chamar de piada pronta.
Jair Bolsonaro, por exemplo, já teve quatro opções cogitadas por sua turma para ocupar a vaga de vice: o senador Magno Malta, o general da reserva Augusto Heleno, a advogada Janaína Paschoal e, finalmente, Marcos Pontes, ele mesmo, o astronauta tupiniquim. É ou não é uma patacoada sem retoques? Está claro que não se pode levar a sério o que não passa de pilantragem.
Enquanto um candidato aponta um possível parceiro a cada 24 horas, também já tivemos um quase vice para muitos postulantes ao Planalto. É o empresário Josué Gomes da Silva, filho do falecido José Alencar, que exerceu dois mandatos como vice do ex-presidente Lula. Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e o PT tentaram atrair Josué para suas aventuras. Após algum suspense, ele desistiu de todos.
A escolha é pautada pelo escancarado oportunismo. Vejam o caso do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que há anos se aproveita da entidade privada para fazer campanha fora de época, muito antes do período de eleições. Candidato a governador de São Paulo, ele escolheu para vice a tenente-coronel da PM Carla Basson. Casou o militarismo com o empoderamento feminino. Tá na moda.
Em Alagoas, a coisa anda mais estranha do que nunca. O governador Renan Filho, como se sabe, não repetirá o companheiro de chapa da disputa de quatro anos atrás. Mas ainda não se conhece quem ocupará o lugar de Luciano Barbosa. A última especulação indica o deputado Maurício Quintella. Por trás dessa estratégia para 2018 já estão os planos para as eleições municipais de 2020.
É assim. Enquanto o desavisado eleitor delira em acreditar que os caciques e legendas estão preocupados com projetos, eles miram o poder não apenas agora, mas pelas próximas gerações. Já o barco de oposição a Renanzinho não tem sequer a cabeça de chapa, que dirá o conjunto completo. Os tucanos juram que daqui a pouco vai pintar o adversário capaz de brigar pra valer. Quem será?
O vice tem história na tradição nacional. Quando a gente menos espera, eles acabam assumindo o lugar do titular com uma frequência inquietante. José Sarney, Itamar Franco e Michel Temer são os casos mais emblemáticos – mas não os únicos. A pouco mais de dois meses para a hora do voto, vemos o velho espetáculo de sempre: trapaça e hipocrisia por demagogos e fanfarrões.
E ainda querem me fazer acreditar em mudança e novos tempos. Fala sério! Escuto essa brincadeira desde que o mundo é mundo. O Brasil caminha para as urnas sob o mesmo padrão da velha política – porque seus protagonistas são tão medievais como sempre foram. Como ainda cantam por aí os dinossauros, que país é este? Mas se você é um patriota e crê em milagres, eu digo: boa sorte.