“A pergunta que se faz aqui é: na contemporaneidade haveria caça pública de mulheres do tipo bruxa? Tudo indica que em Maceió, capital das Alagoas, em pleno nordeste brasileiro, sim”. Você acaba de ler uma pequena parte de um texto publicado no site da Folha de S. Paulo, assinado por quatro mulheres que integram uma ONG feminista sediada na capital alagoana.
O blog da Folha AgoraÉQueSãoElas apresenta as autoras assim: Ana Antunes (atriz), Bruna Teixeira (educadora social e empreendedora criativa), Juliana Barreto (antropóloga) e Ticiane Simões (atriz). O texto critica uma investigação anunciada pela prefeitura de Maceió, para identificar a autoria de pichações na Praça do Skate, na Ponta Verde. Parece que isso tocou fogo nas redes sociais.
As ativistas denunciam “machismo institucional e lesbofobia”. As autoras também condenam a abordagem do assunto na imprensa alagoana, que tratou as pichações como “vandalismo”. Sem citar nenhuma emissora, apontam para o preconceito exposto “no principal telejornal do Estado”. Suponho que seja uma referência ao ALTV, exibido diariamente, em duas edições, na TV Gazeta.
As pichações na praça trazem frases que exaltam pautas feministas, como a descriminalização do aborto. Há também imagens que traduzem relacionamento afetivo entre garotas. Por isso, as autoridades estariam agindo de forma tão contundente ao decidir “caçar” as mulheres pichadoras em Maceió. É o que acusam as ativistas que agora dão visibilidade nacional ao caso.
Diante da reação contra o pixo, as autoras do texto decidiram assumir a criação coletiva das mensagens. Daí surgiu uma espécie de campanha, a #QuemFezEssePixoFuiEu. Se as autoridades municipais querem prender as garotas, terão de procurar por todas elas, em todos os lugares. Sem dúvida, com esse verdadeiro manifesto, elas chamam atenção para o debate da hora.
Ainda segundo a Folha, as ativistas que assinam o texto “são fundadoras e associadas” da Ambrosina – Ateliê para Igualdade de Gênero e Empoderamento de Mulheres. Afirma o blog que, após reivindicarem a autoria coletiva das pichações, “hoje, as bruxas autoras dos pixos são incontáveis em Maceió”. Imagino que nossos gestores não esperavam por essa repercussão tão ampla.
Gostei do texto publicado pelas quatro integrantes da Ambrosina. Merece ser lido. Recomendo que o leitor dê uma olhada no site da Folha e confira as ideias que estão ali. Elas falam do “silenciamento das mulheres” na terra dos marechais. Faz todo sentido. O que mais tem por aí, em nossas belas instituições, é valentão adepto da filosofia do prendo & arrebento, como já escrevi aqui.
A violência contra a mulher é uma das maiores barbaridades no país. Esse é o pano de fundo e, ao mesmo tempo, o centro da questão na denúncia que fazem as autoras no texto publicado pela Folha de S. Paulo. Tomara que o episódio sirva para conter o ânimo autoritário dos detentores de cargos públicos. E, sim, nossa imprensa precisa pensar além da palavra de ordem oficial.