A Reunião da SBPC em Maceió começou, no último dia 22, com uma saraivada de ataques ao governo Michel Temer. Foi o que se viu na cerimônia de abertura, com as presenças de dois ministros. Eles ouviram os acadêmicos criticarem o corte de verba para pesquisas, o que teria provocado a morte de muitos projetos. A choradeira é uma das marcas desse encontro da entidade.

O clima de insatisfação e protesto parece ter contaminado boa parte do evento. Isso estava claro em debates que vi durante a última quarta-feira, quando visitei o campus da Ufal, onde o encontro ocorre até sábado. Numa espécie de mesa redonda organizada pela Associação de Pós-Graduandos, a mesma reclamação sobre carência de recursos era a questão central entre os falantes.

Mais adiante, em outra roda de debatedores, o tema em jogo era o avanço do “neoliberalismo”. Pelo que entendi, cientistas sociais estavam determinados a demonstrar que este é um dos males que estão destruindo a ciência brasileira. O tom da palestra lembrava a militância, o proselitismo tão comum na guerra política nossa de todos os dias. Faltou originalidade aos doutores.

Paro em outra tenda, desta vez para ouvir as vozes que militam em favor da diversidade de gênero e pela valorização da cultura afro-brasileira. Embora não sejam novidades, são temas hoje na moda e mais que obrigatórios num evento como a Reunião da SBPC. Ao lado, lembrando os velhos hippies, aquelas banquinhas que oferecem anéis, pulseiras, brincos e colares, produtos do mundo artesanal.

Com todo o respeito aos mestres da tecnologia e da robótica, dispensei o convite para ver aquelas invenções e geringonças que fazem a festa dos jornalistas de televisão. É uma das atrações mais procuradas. Nossos repórteres investigativos se divertem pra danar com as maravilhas do mundo científico. Aliás, na TV Gazeta, o encontro da SBPC foi tratado como se fosse um parque infantil.

Da ciência para a arte. Numa das salas da Faculdade de Direito, estive num bate-papo com o cantor e compositor Wado. Múltiplo artista, ele acaba de lançar o livro Água do Mar nos Olhos, que reúne todas as suas letras acompanhadas por desenhos também de sua autoria. A mesa foi mediada pela jornalista Patrycia Monteiro, coordenadora editorial da Imprensa Oficial Graciliano Ramos.

O livro do Wado, que foi selecionado em edital da Imprensa Oficial, é, além do conteúdo poético-visual, um objeto de arte em si mesmo. E isso deve ser creditado ao talento de Fernando Rizzotto, um dos maiores designers do país. Ele assina o projeto gráfico, a capa e a diagramação da obra. O resultado é irretocável. Wado falou sobre escrita, criação, parcerias, referências e delírios.

Quando caiu a noite, palco e passarela deram lugar à música e à dança de origem africana. Depois, o próprio Wado apresentou seu show no espaço principal dedicado a nomes da produção musical em Alagoas. Até a reitora Valéria Correia caiu no balanço, ao som do catarinense que escolheu Maceió para brilhar aos olhos do mundo. E assim terminou meu dia na 70ª Reunião Anual da SBPC.

Para quem não foi até lá, garanto que vale a pena. Ainda dá tempo.