A semana começou tensa para motoristas que transportam passageiros em diferentes pontos de Maceió. Refiro-me aos profissionais que, registrados oficialmente como taxistas ou não, usam o carro para o transporte coletivo. É a chamada lotação. Os táxis passam nos pontos de ônibus e viram opção para quem está a caminho do trabalho, da escola, do lazer ou de qualquer outro compromisso.

A lotação é um sucesso por toda a capital. O motorista leva quatro ou cinco pessoas, geralmente de um determinado bairro até o Centro, e vice-versa. Para o usuário, o custo é o mesmo que ele teria caso optasse pelo ônibus. Ocorre que, de carro, a viagem é muito mais rápida e confortável. Cada passageiro paga, como disse, o valor de uma passagem nos coletivos que fazem as linhas da cidade.

O dia foi tenso para essa categoria porque a SMTT estava à caça dos clandestinos. É o que se vê periodicamente. Ninguém sabe qual o critério para a fiscalização botar a cara na rua ou deixar de lado os trabalhadores do volante, como se a atividade fosse plenamente permitida. Como sei disso? Simples: a três por quatro, sou passageiro das lotações. E nesta segunda-feira vi tudo bem de perto.

Explico. Estava num desses táxis, ao lado de mais três pessoas que rapidamente pintaram nas calçadas e esquinas do Vergel. Todos seguiam ao centro de Maceió. Assim que entrei, o motorista começou a trocar informações com outros colegas de trabalho sobre operação da SMTT no pedaço. Um ajudava o outro a driblar os fiscais da prefeitura. O celular é um aliado valiosíssimo nessa aventura para garantir a sobrevivência. Mensagens em tempo real salvam a corrida.

Por causa dos homens da lei, o motorista foi por um roteiro alternativo, seguindo as dicas dos companheiros. E assim fomos driblando os rigores das autoridades. Mesmo entrando em ruas que não seriam o percurso natural, foi muito mais rápido que o ônibus. Meu taxista de ocasião contou já ter tido o carro apreendido em outras operações semelhantes. Nem sempre dá para escapar.

Não sei se os leitores sabem, mas em várias partes de Maceió existem verdadeiros terminais de carros que fazem a famosa lotação. Você chega no local específico e encontra uma fila de veículos. À medida que a capacidade máxima está garantida, lá vamos nós. Nem tente convencer aquelas pessoas a ficarem à espera do ônibus. Não há demora nem viagem em pé se você vai no clandestino.

Em texto anterior falei dos ambulantes e camelôs que estão, de novo, na mira da prefeitura. É mais ou menos a mesma coisa do transporte. Ou seja, enquanto o mundo oficial tenta impor suas regras radicais sobre o povo, a vida como ela é acontece em velocidade sempre muito mais alucinante. Se o bicho pega numa quebrada, a galera descobre rapidamente atalhos para tocar o barco.

Acho que devemos ser legalistas. Respeitar as leis e andar na linha são comportamentos que nos garantem a convivência civilizada. Mas não vejo nos táxis que fazem lotação (e nem nos ambulantes) ameaça a coisa nenhuma. Governos devem encontrar meios que permitam ao trabalhador acordar cedo e batalhar, em paz, por uma renda digna. Por mim, pista livre aos rebeldes e clandestinos.