Faz pelo menos trinta anos que escuto falar em revitalização do centro de Maceió. Eis aí um projeto que atravessa décadas, prefeito após prefeito, e nada. Escrevo isso motivado pela mais nova iniciativa da prefeitura, que acaba de remover ambulantes de parte daquela área da cidade para, segundo as autoridades, disciplinar o uso do espaço público. Mais uma vez, a coisa se dá no improviso.

Para começar, considero muito estranho que o trabalho de agora esteja sob a gestão de um militar. O coronel Ivon Berto Tibúrcio de Lima é o secretário de Segurança Comunitária e Convívio Social. No cargo, ele tem sob seu comando a Guarda Municipal. Na ação de retirada dos ambulantes, houve cenas de truculência por parte de guardas municipais, algo recorrente nesse tipo de operação.

Eu falei do passado. O Centro sempre foi meio bagunçado. Até os anos 1980, todas aquelas ruas famosas (Moreira Lima, Senador Mendonça, Boa Vista etc) eram pista livre para ônibus, táxis, carros comuns, carroças e, claro, camelôs pra todo lado. Foi naquela década que Maceió entrou na onda dos calçadões. Os trabalhadores da rua foram banidos, mas logo voltaram e lá estão até hoje.

Nesse intervalo de tempo, tivemos como prefeitos João Sampaio, Djalma Falcão, Guilherme Palmeira, Pedro Vieira, Ronaldo Lessa, Kátia Born, Cícero Almeida e, agora, Rui Palmeira. Todos, sem exceção, tiveram seu momento de revitalizar o pedaço. Todos foram derrotados inapelavelmente. Basta uma variável como esta para provar o quanto a esfera pública apanha da vida real.

Perambular por aquela região é uma experiência especial. Gosto do cenário um tanto caótico, diversificado e colorido que se desdobra a cada cruzamento, esquina e calçada. A todo instante, personagens únicos atravessam nosso percurso, correndo de um lado a outro, sozinhos ou em grupo. Não será na porrada que vamos acabar com esse fantástico painel da cidade.

Pelos arredores do Teatro Deodoro e da Câmara de Vereadores, por exemplo, vemos vendedores de tudo, de capa para celular a macaxeira e guarda-chuva. Você pode adquirir ainda brinquedos, roupas, óculos escuros e acendedor de fogão. Pode também tomar um caldo de cana ou apenas matar a sede com uma garrafinha de água mineral. Tudo à base do grito de vendedores.

Não vejo problema algum em conviver com esse tumulto cheio de energia e surpresas. Os carrinhos de mercadorias ocupam as calçadas numa convivência agitada e harmoniosa com transeuntes (tranquilos, nervosos ou aparentemente avoados). Caminhar a esmo por essa paisagem, arquitetônica e humana, sem pressa e sem destino, muda o nosso dia. Nada disso cria problema para ninguém.

Por tudo isso, que a prefeitura deixe os camelôs e ambulantes trabalharem em paz. Eles são um patrimônio da capital alagoana. Pior ainda é querer botar ordem na casa com o uso da força bruta, cumprindo as metas discutíveis de um coronel. Maceió tem problemas de sobra, mas, definitivamente, os trabalhadores informais não estão entre essas encrencas.   

Além do mais, as ruas precisam estar cheias, agitadas e barulhentas. Assim é a vida. Caótica.