Palestra motivacional é uma das piadas mais resistentes na vida brasileira. Suspeito que seja assim também ao redor do mundo. Adoramos frases feitas que afagam nossas ilusões. Parece que estamos sempre dispostos a engolir baboseiras que nada representam, a não ser os objetivos mercadológicos de empresas e palestrantes de cabeça oca. Não tenho paciência com essas cretinices retóricas.
Durante muitos anos, no exercício de cargos em redações, sempre fugi de eventos festivos organizados pelas empresas em que trabalhava. Quando não tinha como escapar, comparecia a seminários sabendo que estava desperdiçando meu tempo. Além da inutilidade do palavrório de animadores de auditório, o que restava era o tédio profundo ao ter de ouvir tanta conversa fiada.
Pensei nisso quando a seleção brasileira caiu para a Bélgica na Copa da Rússia. O treinador Tite é um verdadeiro mestre nesse tipo de conhecimento sobre o nada que são as metodologias motivacionais. Em sua trajetória, o professor construiu a imagem de alguém que supostamente tem o poder da palavra. A imprensa bajulatória trata o homem praticamente como se fosse um grande filósofo.
Com essa fama de pensador quase erudito, o treinador da seleção era visto como o homem perfeito no lugar certo, alguém capaz de não apenas fazer o time jogar bem, mas, tão importante quanto, alguém com o dom de motivar seus comandados. Sob as lições intelectuais do motivador Tite, ninguém segurava o Brasil. Ou os caras não entenderam ou o chefe não passa de charlatão.
É claro que não passa de charlatanice. As tais ideias profundas na cabeça de Tite são perfeitas para vender televisão, celular e serviços bancários. Bordão idiota é o ouro da publicidade. Para esse objetivo, sim, o discurso de pastor do técnico brasileiro é irretocável. Mas como na vida real a encrenca é muito mais complexa, os fatos trituram a oratória das motivações. A derrota expõe falácias antes celebradas por meio mundo como exemplos de sabedoria.
Mas, como disse lá no começo, verborragia e ações motivacionais resistem a tudo. Vamos continuar a ver delinquência intelectual ser vendida como sacadas geniais. Porque precisamos acreditar em entidades sobrenaturais; queremos receitas fáceis e aplicáveis para tudo. E, veja que coisa estranha, estamos dispostos a pagar por isso. Bom para os mercadores de ilusionismo.
No futebol (essa metáfora da vida, como se fala por aí desde antigamente), predomina uma repulsa ao pensamento lógico e ordenado. Basta ver a capacidade comunicativa de Neymar e companheiros de ofício. É o universo perfeito para o trololó de Tite e outros da mesma estirpe. Não foi isso que derrotou a seleção, mas que deu uma bela contribuição, não resta dúvida.