Grupo de extermínio é tradição brasileira (e alagoana)

19/06/2018 11:46 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Há notícias que nos perseguem durante décadas. O Ministério Público Estadual investiga a existência de um grupo de extermínio formado por policiais militares. Escrevo baseado em informações que o leitor pode conferir aqui no CADAMINUTO, em textos da jornalista Vanessa Alencar. Segundo o MP, são nove casos suspeitos, envolvendo homicídio e desaparecimento de jovens.

 

Todos esperam que a iniciativa seja pra valer e não fique apenas nas entrevistas de autoridades, como promotores, corregedores e até do governador (que aliás se manifestou sobre o assunto nesta segunda-feira). Renan Filho defendeu a apuração rápida e rigorosa. Disse que grupo de extermínio é intolerável dentro ou fora das polícias. Por razões óbvias, não é uma investigação simples.   

 

Comecei falando de notícias que atravessam as décadas. Alagoas tem uma longa tradição quando se trata de força policial agindo à margem da lei, contra a sociedade. Os exemplos escabrosos remontam à formação do estado e alcançaram épocas mais recentes. Aqui é a terra do Sindicato da Morte e da Gangue Fardada. Em mais de uma ocasião, esse histórico chamou atenção do Brasil.

 

As notícias sobre mortes de bandidos nas periferias de Maceió, com sinais de execução sumária, atribuídas a justiceiros dentro das polícias, foram bastante comuns em nossos jornais ao longo dos anos 1970. Não começou ali, mas aqueles foram dias com muita coisa fora da ordem. Havia quase que uma exaltação oficial da linha dura. Delegado defendia ilegalidades na maior desenvoltura.     

 

Os tempos da gangue fardada, entre as décadas de 1980 e 90, elevaram a coisa ao patamar da política, embora isso também não fosse uma novidade. Digamos que naquela época, o braço armado ganhou uma retaguarda talvez mais espraiada na esfera de caciques partidários, dentro e fora dos governos. O combate a tudo isso gerou consequências que se desdobram até hoje.    

 

Naturalmente não inventamos esse pecado hediondo que inverte tudo quanto ao poder das instituições públicas, que deixam de proteger o cidadão para simplesmente praticar a eliminação de pessoas. Recentemente, uma sequência de assassinatos no Pará levantou fortes indícios de que se trata de ação organizada dentro da Polícia Militar daquele estado. Apuram-se os fatos por lá

 

Por fim, acrescento que não tenho esperança de que a investida anunciada agora pelas autoridades dê algum resultado significativo. Teremos uma resposta apenas burocrática a esses fatos muito esquisitos. Lamento. Mas é o padrão quando se trata desse tipo de denúncia. Torço bastante para que o trabalho do Ministério Público prove que estou errado e desmoralize minha previsão. Veremos.

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..