As Copas do Mundo na TV e o monopólio da Rede Globo

14/06/2018 13:16 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

A primeira Copa do Mundo que os brasileiros assistiram ao vivo pela TV foi a de 1970. Que estreia! Quis o destino que o novo tempo nas transmissões de jogos da nossa seleção nesse torneio fosse inaugurado com a conquista do tri. Ainda em preto e branco, as imagens direto do México representavam, por aqui, uma revolução no jeito de acompanhar uma partida de futebol.

 

Naquele tempo, bem menos da metade dos lares possuía um aparelho de televisão. Nada parecido com o apogeu que se daria nos anos seguintes. Conta a história que as confusões, brigas e rasteiras para garantir os direitos de transmissão, entre as emissoras, começaram também ali, em 70. O mal é de origem. Depois de um tremendo impasse, Globo, Tupi, Band e a antiga Record exibiram o Mundial.

 

De lá para cá, apenas duas vezes houve o monopólio da transmissão na TV aberta: em 1982 e em 2002, a Globo – é claro – exibiu sozinha os duelos pelo título mais importante do futebol. Pois agora, esta anomalia se repete. O império carioca tem outra vez o controle total do espetáculo televisivo. A única alternativa é o canal Fox, se o torcedor tiver uma assinatura de TV fechada.

 

A outra opção também fora da rede aberta é o Sportv, mas que igualmente pertence aos Marinho. Duro mesmo é se você tiver de aguentar as tenebrosas narrações de Galvão Bueno, aquela mistura irretocável de desinformação, ufanismo e cretinice. O padrão globo de antijornalismo chega ao ápice nesta Copa, com a cobertura oficialmente sob controle da área de entretenimento.

 

Veja que ironia. Em termos de monopólio da Globo, há hoje um retrocesso descomunal. Em plena democracia, a emissora domina os direitos sobre um evento como uma Copa, como não conseguiu fazer em plena ditadura. Em 1974, seis televisões transmitiram os jogos: Cultura, Tupi, Record, Band, Gazeta-SP, além da Globo. Quatro anos depois, em 1978, as mesmas seis televisões estavam lá.

 

A partir de 1986, a coisa ficou mais engraçada, com a chegada de SBT e Manchete às transmissões da Copa. As coberturas com vozes distintas, e com infalíveis doses de maluquices, seguiram até 2002, quando, como já disse, tudo ficou nas mãos de Globo e Sportv. A partir daquele ano, o negócio foi se afunilando. Até a ESPN, Band e Bandsport caíram fora este ano. É a força da grana.

 

Para quem é curioso sobre futebol, jornalismo e TV, a internet é uma janela para alguns momentos sensacionais dessa longa história. São impagáveis alguns debates (ou apenas comentários) de figuras como João Saldanha, Jô soares, Zagalo, Armando Nogueira, Luciano do Valle, Juarez Soares, Gerson, Tostão e mais uma multidão de jornalistas e personalidades do futebol que marcaram época.

 

Se tudo ficou mais profissional nas transmissões televisivas, como gostam de pensar os idiotas da objetividade, perdemos em diversidade de vozes, opiniões e linguagem – perdemos no jeito de contar os lances desse jogo mirabolante. Por falar nisso, a bola entrou em campo. Rússia e Arábia Saudita travam um duelo para o estádio lotado, num deserto de craques. E pintam os primeiros gols.

 

Só por curiosidade, vejo pela Fox, na transmissão de João Guilherme (narrador) e comentários de Paulo Vinícius Coelho, o PVC, e Zinho, campeão mundial no insosso torneio de 1994. Mas claro que, ao longo dos jogos, darei uma olhada e outra, de vez em quando, nas presepadas de Galvão e da Globo. Afinal, preciso ter informações para poder esculhambar as porcarias. Não será difícil.

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