O voto não será impresso. Para quem não sabia, ou não lembrava mais, abolida após o triunfo da urna eletrônica, a papelada voltaria, gloriosa, por força da minirreforma política aprovada no Congresso Nacional em 2015. Mas a norma foi derrubada na quarta-feira, 06. Por 8 votos a 2, os ministros do STF decidiram que a medida não será aplicada este ano – o que não significa que não possa ser adotada no futuro. A decisão do Supremo atendeu a uma ação da Procuradoria Geral da República.

 

Nem todo mundo gostou do veto à impressão da nossa escolha na eleição. Pelo contrário. A gritaria é geral e alega mil e uma razões para defender o retorno do papel. Não fosse por outro motivo, esse ponto da minirreforma foi de autoria do tosco Jair Bolsonaro, o que provoca ainda mais zoada. Naturalmente, quem defende a volta no tempo garante não haver cem por cento de segurança na inviolabilidade da urna eletrônica. Tal desconfiança existe desde a estreia do atual sistema.

 

Uma vez que o sistema sempre foi alvo de denúncias, é até curioso que essa suspeita tenha demorado tanto para chegar ao Supremo. Ao longo dos anos, nunca houve uma eleição em que candidatos – derrotados – não tenham tentado anular o resultado saído das urnas. E, nessa novela, Alagoas escreveu um capítulo que foi bater no TSE – e chamou atenção da imprensa nacional.

 

Foi na eleição de 2006 para governador. Contrariando as previsões detectadas nas pesquisas, que apontavam para uma disputa acirrada, Teotonio Vilela Filho venceu o candidato João Lyra no primeiro turno, com um massacre de votos surpreendente. Que o tucano ficasse na dianteira, tudo bem, mas nem segundo turno? De fato, foi algo que intrigou muita gente no país.

 

João Lyra não se conformou. Contratou como advogado até um ex-ministro do TSE, Fernando Neves, que topou levar o caso adiante. Por sugestão de Neves, foi contratada uma perícia ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o insuspeito ITA. E o resultado apontou um cipoal de indícios de que houve algo de estranho em boa parte das urnas alagoanas naquela eleição de 12 anos atrás.

 

Com base nas conclusões da perícia, a denúncia do candidato derrotado foi à Justiça. Como disse, o caso das eleições de Alagoas rendeu várias reportagens em grandes veículos. Uma das mais eloquentes saiu na revista Veja, em janeiro de 2007, assinada pelo jornalista Diego Escosteguy. O texto ressaltava que, segundo o trabalho do ITA, “os indícios de fraude são fortes”. Não deu em nada.

 

Não sabemos se houve realmente algum tipo de ilegalidade na disputa de 2006 – ou em outras eleições da era eletrônica. Os técnicos da Justiça Eleitoral garantem que as urnas são mesmo invioláveis. No julgamento do STF, o ministro Gilmar Mendes fez piada, dizendo que há quem não acredite que o homem pisou na lua. Ou seja, jogou a suspeita na categoria de teorias da conspiração.

 

De minha parte, sempre achei meio aloprada a contestação a essa forma de votar. Não sei se, agindo assim, deposito uma fé despropositada em nossa tecnologia verde e amarela. Como se sabe, as maiores potências do planeta insistem no voto de papel, justamente por desconfiar dos mistérios da urna eletrônica. Como resolver esse drama? Por enquanto, em 2018, vamos pagar para ver.