Eu sei que o país atravessa uma crise dos infernos. Um governo moralmente desqualificado segue seu rumo no piloto automático, sem nada a oferecer ao brasileiro – este cidadão indignado (e no sufoco). Estamos à espera do próximo presidente a ser eleito em outubro e empossado em janeiro de 2019. Mas, até lá, no meio do caminho tem uma Copa do Mundo. Vamos, pois, ao que interessa.
Antes de Aristóteles e Platão, o homem já sabia que jogo é jogo, treino é treino. Logo, conclusões definitivas após a vitória de 2 a 0 do Brasil sobre a Croácia seriam, no mínimo, imprudentes. A pouco mais de uma semana para a bola rolar em campo, nenhum jogador entra em dividida pra valer. O ritmo do amistoso (aquela partida que não vale nada) é de câmera lenta. Ninguém se arrisca.
Diante do que se viu neste domingo, não será inteligente nem a preocupação exagerada, nem a confiança ufanista. Isso não significa que seja de todo uma inutilidade a chamada fase preparatória, agora em reta final. Neymar voltou a campo depois da cirurgia no pé direito que o deixou três meses longe dos gramados. Mais importante que o gol, gostei do que ele não fez: nenhuma presepada.
Parece pouco, mas, para mim, diante de seu histórico na seleção e no futebol europeu, é um avanço notável. Se o craque for capaz de conter os arroubos de demência que lhe deram fama, poderá mesmo ser decisivo. Caso contrário, também será decisivo – contra o próprio time. Depois do fiasco em 2014, esta tem tudo para ser a sua Copa. Está na cabeça, e não nos pés, o gatilho das jogadas.
Ao longo das Eliminatórias, Tite cravou um time titular. Mas, justamente na reta de chegada à Rússia, dois ou três dilemas se impuseram. As dúvidas cruciais estão do meio de campo para frente. As escolhas na formação podem mudar de um jogo para outro. Essas incertezas valem já para a estreia. Assim, vamos começar a competição sob o signo da instabilidade, com posições em aberto.
Antes de falar dos volantes, meias e atacantes, tem a defesa. Danilo é o titular de última hora na lateral pela direita depois da contusão de Daniel Alves. E até um dia desses, Miranda formava a zaga titular com Marquinhos. Mas este perdeu o lugar para Thiago Silva, que se impôs nos últimos jogos. Não sei. Ainda tenho um pé atrás com o chorão de quatro anos antes. É a aposta do treinador.
Diante da Croácia, começamos, no meio, com Casemiro, Paulinho e Fernandinho. É uma opção que privilegia a força na marcação, mas perde bastante em criatividade. Não será a escolha de Tite, a não ser na circunstância que julgar necessário fechar o esquema para garantir a eventual vantagem no placar. Fora disso, Fernandinho estará no banco de reservas.
Para obter um desempenho ofensivo, à frente de Casemiro e Paulinho, os titulares devem ser Willian e Philippe Coutinho. Aqui, outro dilema: Renato Augusto era o dono da posição, mas também perdeu a titularidade, ao contrário de Willian e Coutinho. Por isso tudo, qualquer um desses pode começar jogando, mas ninguém é absoluto na parada. Casemiro, sim, é imexível para o técnico.
E, finalmente, tinha de aparecer um alagoano para tumultuar as convicções do professor, ora essa! É certo que Gabriel Jesus será o centroavante titular na estreia, mas não pode dormir de touca (desculpem, não resisti). Roberto Firmino viveu aqui perto, no conjunto Virgem dos Pobres, à beira da Lagoa Mundaú. É um caso clássico, daqueles que mudam a vida correndo atrás de uma bola.
Fosse eu um patriota sentimental, diria que Jesus não joga nada, diante do nosso conterrâneo goleador – de estilo elegante, frio e implacável. Mas como tenho uma queda para ser do contra, ainda mais em questões de nacionalismo e alagoanidade, devo zelar pela opinião equilibrada. Boa sorte ao grande Firmino. A seleção chega como favorita, mas na hora do jogo é 11 contra 11.