Enquanto isso, a campanha eleitoral corre solta nas redes sociais. Em algumas situações, candidatos mais espertos conseguem emplacar na imprensa ideias que não passam de promessas, algumas quase delirantes. É o caso de um trem de turismo entre os municípios de Quebrangulo e Palmeira dos Índios. Disfarçado de “gestor público”, um aspirante a deputado estadual emplacou essa lorota na TV Gazeta e até na Folha de S. Paulo. É tudo especulação, mas ganhou ares de seriedade.

 

Fui pesquisar a respeito. O projeto do trem do turismo, entre a terra natal de Graciliano Ramos e a cidade em que o escritor foi prefeito, existe há mais de década. Aliás, fala-se disso desde 2003, sempre na carona de períodos eleitorais. Passada a onda, a coisa é esquecida, até a próxima data em que candidatos reaparecem. É exatamente por isso que a velha promessa está de volta agora.

 

Segundo o publicado na Folha e divulgado na TV Gazeta, a obra custará 7 milhões de reais. Os idealizadores juram por Nossa Senhora que isso sairá do papel com recursos de duas prefeituras (das cidades citadas), do Ministério do Turismo e do Banco do Nordeste. Também depende de investimentos da CBTU, responsável por trens que deslizam em ferrovias brasileiras. E os prazos?

 

Ninguém sabe, ninguém diz. Os prefeitos de Quebrangulo e Palmeira também garantem que, no que depende de suas gestões, está tudo lindo. Só falta os outros cumprirem as demais etapas. Se a coisa não andar, o discurso está pronto: a culpa é de terceiros. A verdade, digo eu aqui, é que não existe nada certo para o tal projeto, a não ser a pintura de estações ferroviárias. E campanha.

 

Mas eu ia falar das redes sociais. Assim como o “trem do turismo”, o que não falta é promessa eleitoreira, ficção científica sendo exposta em vídeos e discursos pelo Instagram e YouTube, os dois espaços em que descobri um caminhão de candidatos vendendo mágica. Território livre para difusão de panfletos de toda ordem, as redes antecipam as invencionices do guia eleitoral que vem aí.

 

Há alguns anos, a cada eleição, jornalistas e palpiteiros em geral batem cabeça na pretensão de medir a força do universo virtual na disputa pelo voto. Não é fácil realmente. Primeiro, pelo volume descomunal de informações e iniciativas por parte dos candidatos. E, depois, porque não é moleza separar projetos reais de fantasiosas pegadinhas contra o eleitor. O apito do trem pode enganar.