Pelo que andei lendo e ouvindo nos últimos dias, a palavra de ordem entre setores à esquerda na eleição presidencial é coalizão. Não que isso seja uma novidade, mas a ideia é defendida com mais visibilidade no atual contexto. Quem fala essas coisas, ao menos a maioria, diz que votaria em Lula caso ele fosse candidato. Mas, apelando ao senso de realidade, esses lulistas alegam que a candidatura do ex-presidente está na esfera da fantasia. Insistir por aí seria uma tática suicida.
Em nome de uma alternativa viável e consistente contra a direita, os defensores da coalização também alertam para os perigos da proliferação de candidatos à esquerda. Eis o raciocínio: “Será que, divididos, não corremos o risco de uma derrota ainda no primeiro turno? É também possível que, num eventual segundo turno, os dois finalistas sejam nomes da ala conservadora”. E aí?
Até agora, o grande empecilho para um acordo dessas forças tem sido o PT. E o candidato que mais deseja a aliança é Ciro Gomes, do PDT. Aliás, na última segunda-feira, ele foi o entrevistado no programa Roda Viva, na TV Cultura. Pelo que entendi da repercussão, eleitores fiéis ao campo progressista se animaram com o desempenho do candidato e voltaram a falar na tal coalização.
O problema é que Lula continua se dizendo candidato. E a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, já declarou que Ciro não passa pelo partido “nem com reza brava”. Assim fica difícil – o que deixa muito eleitor do PT em certo desalento. Essa ala considera um erro estratégico dos petistas a insistência com Lula e a intransigente postura em relação a possíveis aliados. Mas é o que temos.
A ideia de uma esquerda unida em nome de Ciro Gomes não esbarra apenas em Lula e no PT. Embora nanico, Guilherme Boulos (o sem-teto e intelectual do PSOL) atrai alguma parcela do eleitorado que historicamente votou no lulismo. É um eleitor com instrução de terceiro grau e forte simpatia pelo ideário das revoluções socialistas. Artistas e intelectuais em geral estão nessa.
Vale também ressaltar que, mesmo entre eleitores que votaram em Lula e Dilma no passado, o nome de Ciro hoje é muito mais viável que o de qualquer petista que venha a ser indicado como o Plano B. Talvez seja por isso, entre outros fatores, que alguns analistas garantem: no limite dos prazos legais, o PT vai abraçar a candidatura de Ciro ainda no primeiro turno da corrida pelo voto. A conferir.
Com o sinal trocado, a velha direita (ou o campo conservador, como queira) vive algo um tanto semelhante – embora sem a carga dramática de ver seu nome favorito na cadeia, como é o caso do PT. De Geraldo Alckmin a Alvaro Dias, passando por Flávio Rocha e João Amoedo, o outro lado está engarrafado de candidaturas. Marina Silva? Nem esquerda nem direita. Mas aí é outra história.