Em texto publicado aqui no dia 24/05, escrevi que supostas lideranças de caminhoneiros mal conhecem uma boleia de caminhão. Nas imagens da TV, senhores engravatados falam mais como políticos profissionais do que como legítimos representantes da categoria. Uma reportagem publicada pela Folha de S. Paulo nesta quarta-feira combina com as ideias expostas neste blog.

 

José da Fonseca Lopes, presidente da Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros) é o senhor que mais fala em nome dos grevistas da estrada. Segundo revela a Folha, é um tucano de carteirinha, filiado ao PSDB desde 1995. Atua como militante político há uns trinta anos. Em 1994, foi cabo eleitoral de Mário Covas, organizando caravanas na campanha para governador.  

 

Com a força dos caminhões mobilizados por Fonseca, Covas venceu aquela eleição para o governo de São Paulo. Em 1998, o ex-caminhoneiro disputou um mandato de deputado federal, mas obteve apenas 1851 votos. O fracasso nas urnas não arrefeceu o engajamento partidário do homem que agora se vende como grande líder dos motoristas de caminhão. Continuou ativo na militância.

 

A reportagem também expõe os fortes laços do sindicalista com o patronato. Sempre foi bem acolhido entre os poderosos do setor de transportes. Exemplo disso é que a sede de sua Abcam fica no prédio da CNT, a Confederação Nacional dos Transportes, a entidade dos empresários. Além disso, o homem mantém relação de amizade com “terríveis” donos do capital.

 

Durante as negociações entre governo e caminhoneiros, viu-se que enquanto o líder garantia uma coisa, os grevistas faziam o oposto, radicalizando o movimento. Isso mostra o quanto Fonseca é respeitado como representante de sua categoria. É pura ficção. Se a situação parece finalmente caminhar para a normalidade, o sindicalista tucano nada tem a ver com isso.

 

O jogo duplo do presidente da Abcam é uma realidade consagrada no meio sindical. Não há nada de surpreendente em tal postura. A escola do sindicalismo forma exatamente esse tipo de gente. Seja qual for a categoria, o sindicato acaba sob o controle de uma patota cuja missão principal é fazer política em cima das demandas do trabalhador. Os companheiros sabem do que estou falando.