“Precisamos lembrar dos erros do passado, pois somente assim evitaremos que se repitam no presente”. Você já ouviu isso incontáveis vezes. É uma dessas ideias feitas que os mais apressados sacam de primeira ao analisar, por exemplo, qualquer crise que se abate sobre o país. Se tal formulação tem algum fundo de verdade, parece que muita gente não entendeu nada de história.
Digo isso diante do protesto que fechou parte da avenida Fernandes Lima, em Maceió, durante a manhã desta segunda-feira. Os manifestantes se concentraram em frente ao quartel do Exército em Alagoas. A escolha do local não se deu por acaso. Pegando carona na paralisação de caminhoneiros, os indignados que foram às ruas exibiam faixas pregando “intervenção militar já”. Que remédio!
Ao falar com a imprensa, os que engrossavam a manifestação deram uma explicação singela para a medida radical que defendem. Segundo eles, ninguém ali pretende uma ditadura fardada. “Queremos só uma intervenção para resolver a crise”. Ah, bom. Então podemos ficar tranquilos. A lógica é a seguinte: os militares tomam o poder, eliminam a bagunça e, depois, voltam para casa.
Isso é apenas ingenuidade, desinformação ou o DNA autoritário na alma do cidadão de bem? Provavelmente uma combinação explosiva dos três fatores e mais alguma coisa. Alguém precisa avisar aos patriotas alagoanos que foi exatamente assim que as coisas se deram em 1964. A porrada militarista era só um remédio a curto prazo. Logo depois o poder voltaria para a sociedade civil.
Como se sabe, o golpe “cirúrgico” instalou uma tenebrosa ditadura que durou nada menos que 21 anos. Para debelar a ameaça comunista, os heróis de farda torturaram e assassinaram centenas de brasileiros, sendo que muitas famílias procuram seus parentes desaparecidos até hoje. É patético, mas é fácil hoje em dia ver gente negando esses fatos, por mais escandalosos que sejam.
O mais grave é que a ideia insana de intervenção dos quartéis não é exclusividade das camadas populares, de pessoas sem instrução. Nos tais movimentos de direita que proliferam por aí, há uma ostensiva exaltação da força bruta para supostamente enfrentar os problemas da sociedade. Somente assim, na visão torta dos ideólogos do prendo e arrebento, o Brasil tem jeito.
Os integrantes dessa presepada cultivam um bizarro fanatismo pela bandeira do país, pelo verde e amarelo, por símbolos do mundo militar e, claro, por uma potente arma na mão. Atuam e escrevem nas redes sociais como seguidores de uma seita, histericamente engajada na difusão de suas ideias. Vomitam ódio para eventuais contestadores e repetem platitudes para os convertidos.
Insisto num ponto. Não é um pensamento restrito a gente sem formação. É uma desgraça que empresários, professores, “artistas” e também jornalistas engrossem esse coro de dementes. Eles estão por aí, até bem perto de você. Apesar de tudo, até agora – e isso dá um certo alívio –, creio que as instituições se mantêm imunes aos apelos do obscurantismo. É assim na velha e boa democracia.