Em ano de eleição presidencial, marcada para daqui a pouco mais de quatro meses, quais forças políticas saem no lucro com a greve dos caminhoneiros que parou o país? A primeira resposta é também a mais óbvia e imediata: claro que é a oposição ao governo. Mas, por uma razão elementar, isso não esclarece nada, porque o que mais existe é candidato que se declara adversário da gestão Michel Temer. Ninguém é maluco de se apresentar em defesa do Vampirão do Planalto.
Aí o quadro vira uma misturada cheia de nuances, com posições variando entre a hipocrisia, vozes incendiárias e declarações reticentes por receio de desagradar a uns e a outros. Lendo declarações de lideranças partidárias na imprensa, além de muitos vídeos pelas redes sociais, parece inevitável cravar que a crise fortalece, sobretudo, o petismo e a turma de Jair Bolsonaro. Faz bastante sentido.
Muitos caciques do PT não perderam tempo em expor o seguinte raciocínio: então foi para isso que derrubaram a Dilma e prenderam o Lula? A ideia não é novidade; vem sendo usada como um mantra diante de qualquer notícia negativa na economia. Mas agora, com a loucura de bloqueios em todo o país, o argumento do partido tem um apelo fortíssimo que nunca houve. É incontestável.
Repare que coisa. Já antes dessa crise dos caminhões e dos combustíveis, pesquisas revelaram que a ex-presidente Dilma Rousseff lidera a corrida para o Senado em Minas Gerais. Vai se apresentar, no palanque, como uma mulher que sofreu um processo de impeachment cuja legitimidade nunca foi consensual. Longe disso. No Brasil – e no mundo – o afastamento de Dilma rachou a plateia.
Imagino que o marqueteiro do PT deve considerar o atual cenário um negócio dos sonhos. Lula, o pai dos pobres e do bolsa-família, foi trancafiado depois de uma sentença que não apresenta uma miserável prova do crime a ele atribuído. E não adianta gritinho em favor de Moro, o herói patriota de Curitiba. Também não serve o Power Point do afetado procurador de bochechas rosadinhas.
Além dos fatores Lula preso sem provas e Dilma vítima de uma trama num Parlamento sem moral, temos a variável econômica. E, convenhamos, com desemprego nas alturas e uma inflação baixa que o povo assim não reconhece, qual seria uma conclusão lógica na cabeça do eleitor? Com o PT era muito melhor. A continuar do jeito que vai, se é que não vai piorar, o discurso está pronto e acabado.
Com esse desenho, é perfeitamente natural que Lula, na hora certa, aponte o Plano B de seu partido com chances reais de garantir a vitória nas urnas. Por enquanto vai levar sua própria candidatura ao limite dos prazos legais. E não será necessário ceder a vaga para um não petista, como Ciro Gomes. Este, naturalmente, se mexe para surfar a onda dos que prometem mudar tudo o que está ruim.
Também como oposição, digamos que Marina Silva corre por fora. Ela igualmente se beneficia do quadro armado nos dias atuais. Mas terá dificuldades extras para encaixar o discurso de alternativa aos que representam o mesmo campo e atiram no governismo. Seu caso é mais imprevisível.
Quanto a Jair Bolsonaro, aqui entramos no planeta das aberrações. Mas é claro, como já disse, que o engarrafamento de postos e estradas também beneficia essa tranqueira. Aliás, sua claque alucinada conseguiu juntar, no mesmo alarido, vivas ao candidato e torcida por uma ditadura militar.
Outros candidatos, como Geraldo Alckmin, Henrique Meireles e Álvaro Dias, fazem parte de um bloco que até agora tem tudo para sucumbir num belo naufrágio. O caso mais desesperador é o do tucano Alckmin. O PSDB periga, depois de seis eleições no topo, ficar fora do segundo turno.
No calor dos acontecimentos, tudo isso que escrevo pode ser um bocado de coisa, inclusive o contrário ou quase nada. É o risco de avaliar o agora. Porque a história continua no próximo minuto.