Não quero gastar muitas linhas com o ministro Luis Roberto Barroso, hoje o mais populista dos onze integrantes do Supremo Tribunal Federal. O homem veio passear em Maceió, a pretexto de palestrar no convescote que reuniu mais de mil magistrados de todo o país, no congresso anual da categoria. Mais Barroso do que nunca, com aquela voz que Deus lhe deu, pontuou seu demagógico discurso com homenagens aos “bravos juízes de primeiro grau”. Recebeu aplausos ruidosos. Previsível.

 

Como faz todo santo dia, mais preocupado com holofotes e bajulação, veio aqui anunciar que o país não tolera mais político corrupto. Muito original! Por isso mesmo, disse que lamenta decisões que concedem liberdade para acusados de práticas desonestas. Foi uma tentativa de atacar o ministro Gilmar Mendes. Mas Barroso – e isso diz muito sobre sua personalidade – não cita nomes. Como posso classificar tal postura? Covardia? Trapaça intelectual? Malandragem envernizada?

 

Talvez tudo isso junto. Mas deixo de lado esse político que age com o disfarce da toga e sob a proteção da Justiça. O que houve em Maceió ao longo desse encontro da juizada brasileira não foi debate nenhum. Isso é apenas fachada, coisa para ilustrar cartazes e enfeitar material de marketing. Todos ali estavam determinados a reproduzir a onda de protagonismo que embala o Judiciário.

 

E como isso pode ser verificado? Exatamente por essa conversa fiada de que o Poder Judiciário é a grande esperança para nos livrar dos maus políticos. Magistrados vieram aqui reafirmar que a única coisa que presta no Brasil de hoje é a Lava Jato e tudo o que daí decorre. Como já comentei em outro texto, é o arrastão do PJ, o Partido da Justiça, na expressão do sociólogo André Singer.

 

Você não acha um tanto esquisito que juízes realizem um encontro nacional para debater política? Eu considero uma piada. Até parece que o sistema judiciário brasileiro é um exemplo para o mundo. Está tudo tão perfeito nos tribunais e comarcas, que os senhores e senhoras da Justiça resolvem pregar sobre os rumos do sistema partidário. Querem ensinar sobre técnicas especiais de eficiência!

 

A bordo de suas carreiras acintosamente contempladas por todos os tipos de privilégio, juízes deveriam debater caminhos para alcançar qualidade em suas atividades. Processos que se arrastam por muitos anos são apenas um dos descalabros no Judiciário. Primeiro, o dever de casa, a obrigação elementar. Mas não. Eles têm outras prioridades, temas mais urgentes na agenda. 

 

Sendo assim, sugiro que, no próximo congresso da magistratura, suas excelências poderiam debater sobre pós-verdade e empoderamento do funk. Ou ainda, quem sabe, podem esmiuçar a polêmica universal sobre a Terra plana. São temas à altura de um poder historicamente tido como irretocável.