A história não se repete. O que ocorre, até com alguma frequência, são lances de hoje que lembram o acontecido de ontem. O deputado federal Ronaldo Lessa, por exemplo, vive agora uma situação de certo modo semelhante ao que se passou com ele, oito anos atrás. Como se sabe, Ciro Gomes pediu a Lessa que saia candidato a governador. Ele ainda não disse nem sim nem não.

 

O Ciro de 2018 é o Lula de 2010 na vida do deputado. Naquele ano, Lessa estava sem mandato. Sua intenção declarada era concorrer a uma cadeira de senador, mesmo cargo que ele havia tentado em 2006, sem sucesso. Mudou de rumo após uma solicitação direta do então presidente da República, que, àquela altura, já estava costurando apoios para fazer de Dilma Rousseff a sua sucessora.

 

Em comparação ao cenário atual, muda só o mês. Até ali virtual candidato ao Senado, Lessa teve um encontro decisivo com Lula, em Brasília, no dia 20 de janeiro de 2010. Quando a reunião acabou, o alagoano deixava de lado sua ideia original, e a disputa eleitoral ganhava um novo candidato a governador. Editor-chefe da Gazeta naquele tempo, publicamos a notícia de forte repercussão.

 

A reunião que decidiu aquela candidatura ao governo ocorreu numa noite de quarta-feira. Além de Lula e Lessa, participaram o então ministro Carlos Lupi e Rosiana Beltrão, que havia sido prefeita de Feliz Deserto e presidente da Associação Alagoana dos Municípios. Como se vê, um dos personagens dessa antiga negociação continua no caminho do deputado: o espalhafatoso Lupi.

 

Encerrada a conversa entre os quatro políticos, Lessa contou, por telefone, detalhes da novidade à competente jornalista Niviane Rodrigues. É o que está na reportagem publicada no dia 21 de janeiro. Ele resumiu assim o desfecho do encontro: Estou decidido a mudar meu projeto [de disputar o Senado] e construir um outro projeto. Se depender de mim, o presidente Lula me convenceu.

 

Até a reunião, o virtual candidato das oposições era o então prefeito Cícero Almeida. Preterido, ele acabou aderindo à campanha de Téo Vilela. Outra declaração de Lessa registrada na Gazeta: Quero o compromisso de todo mundo comigo. Ninguém pode subestimar. Será uma eleição difícil. Estava certo. No segundo turno, Vilela bateu o adversário e se reelegeu para mais quatro anos no palácio.

 

Porque os eternos clichês nos perseguem, parece que foi ontem. De lá para cá, Rosiana deu uma sumida, Lessa virou deputado, Lupi não é mais governo (mas ainda manda no PDT) e Lula, quem diria, hoje é um presidiário. E a Niviane segue fazendo o jornalismo de excelência que sempre fez.