Vendo na TV as reportagens sobre a greve de caminhoneiros, o que me chama atenção são as figuras que se apresentam como lideranças da categoria. Está evidente que ali ninguém vai à estrada há pelo menos algumas décadas. É tudo burocrata de sindicato, bem longe da realidade dos que pegam no batente; no caso, no volante. Se bobear, nunca sentaram na boleia de um caminhão.

 

Nada que surpreenda. É assim mesmo, não apenas nesse setor, mas em praticamente todas as áreas profissionais. Associações e sindicatos, em regra, servem para fazer política e gerar dividendos a um pequeno grupo. A tropa que realmente trabalha é usada como instrumento de pressão a partir do que é decidido por uma patota. Jamais saberemos o que se negocia nessas horas esquisitas.

 

Como se percebe nesse movimento que espalha o caos pelo país, os “grevistas” da carga pesada têm o apoio não declarado de empresários. Também aqui nenhuma surpresa. Tanto no setor privado quanto no serviço público, o acordo secreto entre patrões e sindicalistas é, por assim dizer, um clássico da economia. E isso não é coisa exclusiva de “pelegos” – é marca registrada na elite sindical.

 

Não é muito comum, o leitor deve concordar, o ponto de vista que defendo. O corriqueiro é a cantilena que aponta para bravos líderes de trabalhadores enfrentando a fúria de cruéis poderosos do capital. É mais romântico, concordo. O chato é que, no mundo real, esse romantismo está a serviço de interesses que, muitas vezes, nada têm a ver com melhorias na vida do trabalhador.

 

O alcance da bagaceira provocada pela paralisação dos caminhoneiros, por si só, é um fortíssimo sinal de que há muito mais que revolta espontânea de uma categoria. Naturalmente, a situação econômica e a onda de vale-tudo na seara política forjam as condições ideais para incendiários.

 

Repito: quem comanda a agitação está longe dos perigos que sobram em cada curva nas rodovias do país. Isso é briga de poderosos. Os negociadores que falam em nome de um segmento do setor produtivo exploram um problema real para alcançar objetivos inconfessáveis. Tudo previsível.