O marasmo no quadro eleitoral alagoano, especialmente na disputa pelo governo, foi sacudido por uma informação revelada pelo jornalista Davi Soares. No site Diário do Poder, o repórter, um dos mais sérios e talentosos que já conheci, expôs que Ciro Gomes, o presidenciável do PDT, pressiona para que o deputado federal Ronaldo Lessa seja candidato a governador.
Sem dúvida, se o deputado aceitar a proposta, teremos uma profunda alteração no cenário posto até agora. Ciro está motivado. E está certo de que, sem Lula nas urnas, suas chances de vitória são bem mais concretas do que em 1998 e 2002, quando também disputou o Palácio do Planalto. Por isso, briga para construir palanques estaduais competitivos. É uma variável de fato relevante.
A direção nacional do PDT joga pesado para garantir candidaturas fortes no maior número possível de estados. Portanto, a investida de Ciro está plenamente de acordo com seu projeto. A ironia é que hoje Lessa é nada menos que o virtual coordenador da campanha de Renan Filho, que busca a reeleição para ficar mais quatro anos no comando estadual. Não é uma situação fácil.
Outro ponto delicado para Ronaldo Lessa, caso tope o desafio de ser candidato a governador, será o malabarismo que terá de fazer para explicar sua escolha. Explicação que deve ser convincente para dois públicos ao mesmo tempo – os partidos aliados e sua excelência, o eleitor. Ele sai da chapa governista direto para a condição de principal adversário do grupo que hoje lhe dá abrigo.
Sim, nem precisamos lembrar que, como está até nas escrituras sagradas, política é política. O fiel companheiro do sábado tasca a peixeira nas costas do aliado no domingo. Não digo que esse seja o caso entre Lessa e os Calheiros. Nunca houve um casamento duradouro entre as duas turmas. Historicamente, aliás, as diferenças foram mais frequentes que a convivência sólida e pacífica.
Além de tudo isso, todo mundo parece concordar que Ronaldo Lessa tem uma reeleição garantida à Câmara Federal. Com essa perspectiva bastante favorável, ele está disposto a embarcar numa disputa de resultados incertos? É o que deve estar pensando agora, entre outras coisas, o político que já governou Alagoas por dois mandatos. Em 2010, ele tentou de novo – e perdeu para Téo Vilela.
Ciro Gomes e o PDT acabam de armar uma sinuca de bico para Lessa. A coisa é tão inusitada que, por mais que seja tentador arriscar um chute sobre sua decisão, serei prudente. Essa é difícil. Mas o ex-governador não é amador – embora tenha uma queda pelo perigo. Torço para que acerte.