Jair Bolsonaro dispensa apresentações. Todo mundo sabe das qualidades do elemento. Mas, ainda assim, não importa que suas ideias, sobre qualquer coisa, sejam nada além que rasteiras, “luminares” da direita celebram a biografia do homem. Afinal, se ele é contra a “ameaça comunista” e o “marxismo cultural” (Santo Deus!), então os liberais sentam para dialogar. Bonito.
Donald Trump é quem é; e também não requer apresentação de currículo. Um cretino que reúne o que há de pior num político despreparado para tudo, ainda assim recebe tratamento semelhante ao demente brasileiro do parágrafo anterior. Ditos conservadores e liberais enxergam ali bons modos e modernos projetos para o futuro da humanidade. O que importa é derrotar o mal do esquerdismo.
Na Venezuela, Nicolás Maduro, o demente tiranete que bate papo com passarinho, acaba de renovar o mandato de 6 anos, numa eleição que só não é exclusivamente uma piada porque é, primeiro, uma fraude escandalosa. O processo eleitoral faz parte de um modelo de democracia de fachada. A votação do último domingo se deu em condições absurdas, com zero por cento de credibilidade.
A população abandona o país. 800 venezuelanos chegam por dia ao Brasil, fugindo da tragédia capitaneada por Maduro. Hoje, estima-se em mais de 50 mil o número de pessoas que vieram para Roraima. É um contingente que não para de crescer. Elas fogem do desemprego, da fome e de uma inflação de inacreditáveis 16.000%. De quem é a culpa? Depende de quem responde.
Parece uma mentira de outro mundo, mas historiadores, sociólogos, políticos e, é claro, jornalistas juram que todo esse colapso tem de ser debitado na conta do imperialismo americano. É tudo uma obra detalhadamente arquitetada para destruir o farol da revolução socialista que um dia nos levará à utopia. Assim como a direita, a esquerda vê o que quer, quando lhe é conveniente.
O que acho espantoso é a convicção na defesa de argumentos, de lado a lado, do que me parece escandalosamente indefensável. Para salvar Bolsonaro ou Trump, a direita (ou algo assim) pratica a mesma espécie de contorcionismo retórico da esquerda (ou algo assim) para salvar Maduro. Por que isso ocorre? Porque o que importa é sustentar minha “convicção ideológica”.
Essa insanidade geral, desculpem pelo óbvio ululante, foi turbinada por esse frenesi da militância virtual, na troca de informações que, no fundo, apenas reforça a opinião da minha preferência. Falando o tempo todo para sua patota, um idiota (ou um cretino) vai se tornando ainda mais cretino (ou idiota). É assim que vejo a defesa passional de Trump ou de Maduro. Aqui os dois empatam.
Não quero dar lição a ninguém – por completa falta de qualidades para isso, mas sobretudo por intenção zero de ensinar seja lá o que seja. Também não estou preocupado com a defesa de teses de nenhuma tendência de pensamento. Me livrei de qualquer motivação militante desde sempre. Escrevo – vamos dizer assim – para atacar ideias prontas e o que me parece besteiras consensuais.
Escrevo também para testar limites, para experimentar a liberdade de bater em qualquer patetice que se apresenta como monumento. E finalmente porque, assim, exponho minha coleção particular de besteiras. Não quero ter razão. As únicas coisas que me movem aqui são duas patas e uma cabeça um tanto (ou muito) perturbada. No mais, o leitor está livre para esculhambar.
Tais princípios já representam uma motivação e tanto. Esquerda, direita, Bolsonaro, Maduro – essas marmotas não têm importância nenhuma na vida de um indivíduo. Mais ou menos por aí. Bom dia!