Todos os bispos do Chile renunciaram após acusação de pedofilia. O pedido de “demissão coletiva” será analisado pelo Papa Francisco. A Igreja Católica chilena enfrenta a maior crise de sua história. Agora pense nos fiéis que durante toda a vida confiaram na santidade desses homens do Senhor. Mundo afora, a sucessão de escândalos sexuais, sob a proteção de Deus, não é de hoje.

 

Naturalmente, ficamos sabendo apenas dos casos que rompem a barreira de proteção que parece ser a regra entre os senhores de batina. E ficamos sabendo porque hoje os tempos são outros, com a revolução dos meios tecnológicos de informação. Durante séculos nada disso veio à tona. Até um dia desses, qualquer denúncia sobre desvios na Igreja era derretida nas fogueiras divinas.

 

Violência e medo. Essa é a dupla temática que pode dominar o debate eleitoral na eleição para presidente. O noticiário em geral embarcou na vertiginosa pauta que arrasta a família brasileira. E é claro que Jair Bolsonaro nada com desenvoltura nessa praia de insanidade, com o proselitismo barato que defende a solução simplória de armar todo mundo. Vamos às urnas para um duelo.

 

Nesta sexta-feira, Geraldo Alckmin deu uma piscadela para os ansiosos cidadãos de bem que exigem um Brasil com jeitão de faroeste. Falando para gigantes do agronegócio, o candidato tucano afirmou que o porte legal no campo deve ser uma alternativa a se considerar. E como impedir que o fazendeiro venha à cidade com sua arma legalizada? Avançamos, bastante, para trás.

 

Na campanha eleitoral, tão urgente quanto falar de segurança pública é a retórica de combate à corrupção. Parece uma novidade, não é? Afinal, nunca o país esteve tão conflagrado por tantos casos de assalto aos cofres públicos. Que nada. Jânio Quadros se elegeu presidente, quase 60 anos atrás, usando uma vassoura como símbolo. Prometia varrer a bandalheira para sempre.

 

O jornalismo brasileiro também anda para trás, com desassombro e voracidade. É o que constato diante do frenesi com essa porcaria de casamento real britânico. Tem até especialista para comentários nas grandes redes de TV. No momento em que escrevo, os maiores portais tratam o assunto nas manchetes. Os termos e trejeitos de jornalistas atestam que estamos perdidos.

 

O mundo é maluco mesmo. Se, como dizem os bacanas do pensamento dominante, acabou a velha família; se pai, mãe e filho são coisas do passado, por que essa reverência despudorada a um monumento à caretice? Pelo visto, as meninas querem mesmo é ser princesas – depois, é claro, de encontrarem o encantado príncipe. Cadê o novo homem e o empoderamento feminino?

 

José Dirceu voltou à cadeia e diz que jamais fará delação. A imagem de sua rotina de condenado por corrupção fica ainda mais desconcertante quando se pensa na biografia lançada em 2013 pelo jornalista Otávio Cabral. Ali, vê-se o personagem ávido pelo poder desde a militância de adolescente. De aprendiz de guerrilheiro em Cuba a compulsivo triturador de aliados, fez de tudo para subir.

 

Com Neymar tatuado pela imagem de mercenário, arrogante e desmiolado, o mundo da publicidade elegeu Tite como seu perfeito garoto-propaganda. O modelo ideal de vendedor da Copa é o professor. Por isso somos obrigados a ver o homem a proferir uma coleção de baboseiras, com ares de pensador. E milhões de jovens dispostos a “empreender” deliram com receitas sobre o nada!

 

Manhã de sábado, 19 de maio de 2018. Aqui, nessa parte da cidade, bate o mormaço, cai um chuvisco passageiro, o sol vai e volta, a vizinha estende roupa no barbante esticado entre um poste e outro, e na esquina, um quarteto divide a meiota, e da caixa de som na calçada, eu vou voando pela vida... sem destino algum, e agora sem os pardais, vou sem saber pra onde... estou só, a 200 por hora.