Um tiroteio de demagogia

16/05/2018 13:02 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Três tiros disparados por uma policial militar, em São Paulo, mataram um assaltante e animaram bandoleiros da política. Desde o episódio, registrado em vídeo no último sábado, um bocado de políticos tratou de exaltar a destreza e a coragem da cabo Kátia Sastre. A exploração mais deletéria ficou por conta do atual governador paulista, Márcio França. Candidato à reeleição, ele não perdeu tempo em faturar em cima dos fatos. Demagogia é pouco para o que se viu.

 

Na imprensa, escreveu-se muito sobre se a policial agiu corretamente ou não. Jornalistas nos grandes veículos questionaram o incentivo a ações letais da polícia. O Brasil tem uma das polícias que mais matam no mundo. Mas não é esse o aspecto central aqui. Diante de um assaltante armado, a PM agiu em legítima defesa e ainda protegeu mães e crianças que estavam no local. Ela fez o certo.

 

Escandaloso mesmo – mas nunca surpreendente – foi a postura do governador. No dia seguinte, ele armou uma homenagem à policial, com discurso, beijinhos e flores. Não satisfeito com essa dose de cretinice eleitoreira, piorou as coisas na última segunda-feira, durante um pronunciamento. Disse que a farda da PM é “sagrada” e, além disso, “uma extensão da bandeira do Estado de São Paulo”.

 

Com essa premissa tresloucada na cabeça, Márcio França afirmou ainda que quem “ofender” a polícia “está correndo risco de vida”. Aí não dá. Além de falaciosa (e simplesmente errada), a ideia, agora sim, é um incentivo à truculência das forças de segurança, quase uma licença para matar. Se os abusos já ocorrem a três por quatro, com um aval desses o que se pretende? Matança geral?

 

Essa mentalidade, tragicamente, alcança boa parte dos quadros policiais Brasil afora. Os exemplos são quase diários. Nem precisava, mas as palavras do governador de São Paulo provam, mais uma vez, que o jogo político desconhece limites éticos e morais. Vale tudo para chegar ao poder.

 

Numa disputa eleitoral, nunca é demais lembrar, a falta de escrúpulos se traduz nas piores torpezas por parte de quem deveria dar o bom exemplo. Depois, como se nada tivessem a ver com isso, os representantes do povo ainda reclamam da criminalização da política. Mas o padrão é esse aí.  

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