A carta aberta de Rodrigo Cunha

11/05/2018 03:43 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

O deputado Rodrigo Cunha começou mal sua aventura rumo ao Senado. Na “carta aberta aos alagoanos”, apela, já na primeira linha, à memória do crime político que vitimou sua mãe, a deputada Ceci Cunha. O caso, que ficou conhecido como a Chacina da Gruta, ocorreu há vinte anos. Suponho que não seja necessário explicar por que esse tipo de apelo é, no mínimo, constrangedor. Para obter o atual mandato, o jovem idealista também recorreu à mesma tática. Tomara que não avance por aí.

           

Em sua totalidade, a carta do agora candidato a senador é uma antologia de frases vazias, ideias primárias e clichês a perder de vista. O texto parece saído de algum manual de autoajuda ou de alguma obra de Paulo Coelho. “O que me fez seguir em frente foi a coragem de lutar por justiça”. Eis um exemplo que resume a qualidade do pensamento exposto no comunicado ao povo de Alagoas.

 

A outra marca do texto é o autoelogio sem cerimônia. Estamos diante de um homem corajoso, tomado de “muita ousadia” para, é claro, “superarmos o velho e fazermos brotar o novo”. Cunha tem certeza de que reúne todas as credenciais do salvador da pátria. “Passei as últimas semanas captando os sentimentos dos alagoanos”, informa ele com humildade e senso crítico.

 

Se há algo de novo no candidato, ele trata de esconder bem escondido na sua carta absolutamente trivial, genérica, velha. O que temos nessas palavras é a mais pura tradução do arcaico, da retórica consagrada nos piores discursos de populistas de cabeça oca. Na verdade, a julgar pelo conteúdo desse documento pessoal, o que está escrito resume a cantilena da medieval política.  

 

Juventude nunca foi e nunca será sinônimo de postura de vanguarda. Do mesmo modo, a única ligação que existe entre aparência e essência é a banalidade de uma rima fácil. Se tudo isso representa uma grandiosa alternativa para o eleitorado, para mim tanto faz. Não tenho e nem estou à procura de um líder, um ídolo, um guru. Desperdiço o tempo em outros esportes.

 

Que o deputado aprimore o texto e o pensamento. O Senado já está cheio de nulidades – todas com estampa bem cuidada, cabelos retocados e gestual ensaiado. Mas, ainda assim, nulidades.

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