Cuidado! Você pode ser massacrado

10/05/2018 11:08 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

“Estou sendo massacrado nas redes sociais”. Quem disse isso foi o vereador do Rio de Janeiro Marcello Siciliano, agora suspeito de envolvimento no assassinato de sua ex-colega na Câmara Municipal, a vereadora Marielle Franco. A suspeita sobre ele apareceu após reportagem do jornal O Globo. Uma testemunha contou à polícia que o crime foi tramado por Siciliano em parceria com um ex-policial militar que está preso por chefiar uma milícia. O vereador, claro, nega tudo.

 

Para se defender publicamente da acusação, o vereador convocou uma entrevista coletiva. Toda a imprensa deu destaque à frase que abre este texto – uma declaração feita em tom de desabafo e também de denúncia. Pode ser óbvio, mas achei sintomática essa ênfase ao se referir às redes sociais. Parece que o vereador está mais incomodado com a zoada na internet do que com a gravidade da suspeita sobre sua conduta. Eu sei que hoje é assim, mas continua esquisito.

 

É aquela situação: falando em tese, o sujeito apronta as piores bandalheiras, e tem a consciência tranquila, mas bate a indignação se a coisa se torna pública. É o que vemos com os arrependidos de malfeitorias a rodo – somente quando descobertos. Não sabemos se o vereador é culpado ou não, mas ele mesmo está mais preocupado com sua imagem no mundo virtual do que em demonstrar inocência. Ao menos foi essa a impressão que ficou ao vê-lo dar suas explicações para os jornalistas.

 

No reino da aparência e da futilidade, não é por acaso que são recorrentes as notícias de suicídio após a repercussão de algum fato, por mais banal que seja, na grande rede. A exposição inesperada de uma opinião ou de um gesto pode levar uma pessoa a atitudes extremas. Nessas ocasiões, é frequente o recurso à violência – contra o outro ou contra si mesmo. Como se sabe, essa realidade já é praticamente um campo específico de estudos. E a tendência é que esse quadro piore muito mais.

 

Não interessa o que você pensa, o que faz ou deixa de fazer. Como andam suas redes sociais? Espero que estejam cheias de curtidas, elogios e corações. É possível encarar as confusões em casa, na rua e no trabalho. Dá para desenrolar a pressão na escola e os desencontros de uma balada. Dramático mesmo, imagino, deve ser superar qualquer desencanto que se transmite pelas telinhas.

 

É o jeito de pensar em nosso tempo. Aliás, mais que isso, é o jeito de existir. A tragédia não é nada, se na internet ninguém liga para o que é trágico. Do mesmo modo, a tolice definitiva ganha o peso de uma calamidade, se uma onda se ergue nas redes sociais. Daí para o “massacre”, é só mais um clique.

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