Se o crime é coisa de profissional, a investigação é feita por amadores

07/05/2018 18:39 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Quando a investigação de um crime é marcada por brigas entre delegados, o que se pode esperar? Boa coisa não há de ser. Roberta Costa Dias tinha 18 anos quando desapareceu, em abril de 2012, no município de Penedo. Ela estava grávida. A família de seu namorado não aceitava a relação. Seis anos depois, a Polícia Civil não esclareceu o crime. E o mais grave: no decorrer de todo esse tempo, autoridades trocaram acusações quanto à lisura na condução do inquérito. O que motivou isso?

 

Essa pergunta, sem resposta até agora, pode guardar segredos acerca do mistério – que nem parece tão misterioso assim. São muitas as evidências sobre o que teria acontecido com Roberta. A lógica nos leva a imaginar um roteiro hediondo que teria resultado no assassinato da jovem. No entanto, mesmo com fatos e indícios à luz do dia, a investigação está nas sombras.

 

Na semana passada, o caso voltou ao noticiário após a divulgação de uma conversa que indica a autoria do homicídio. Aqui no CADAMINUTO, o leitor encontra todos os detalhes. Comento a partir das informações publicadas. Se o teor da gravação revelada agora for confirmado, põe em xeque a versão inicial dos investigadores, que apontou três policiais civis como envolvidos no caso.

 

A gravação é do conhecimento da polícia desde 2016. O Sindicato dos Policiais Civis de Alagoas afirma que uma “rixa” entre delegados motivou a acusação aos agentes. A entidade garante que eles são inocentes. Em entrevista coletiva nesta segunda, o advogado do Sindpol, Welton Roberto, traduziu o impasse numa pergunta: “O que está por trás do ato de esconder um assassino quase confesso?”. Esse é o ponto que agora o comando das investigações deveria esclarecer.

 

Depois que vazou a gravação, ainda na semana passada, um dos delegados que apuram o desaparecimento de Roberta deu uma declaração que parece estratégia de defesa. Segundo Cícero Lima, estamos diante de um crime que “foi cometido por profissionais”. É estranho esse diagnóstico após seis anos de apurações. A tese inesperada parece apenas complicar a situação.

 

Logo após a notícia do crime, lá em 2012, a versão corrente em Penedo era de que os culpados ficariam impunes, porque tinham a proteção de “gente poderosa”. Em 2013, o primeiro delegado a investigar o episódio foi afastado por suspeita de omissão. Mas, como se vê, isso não trouxe agilidade e transparência ao inquérito. Deu-se precisamente o contrário. Hoje, tudo continua nebuloso.

 

Atualmente, as investigações estão sob o comando de uma comissão de delegados. Ao falarem do assunto nos últimos dias, essas autoridades pareciam sob pressão, incomodadas com o vazamento do áudio que redimensiona o crime. Não foram convincentes em nada do que disseram. Enquanto isso, a família de Roberta Dias tem de suportar a perda e a dor da impunidade.

 

Este é mais um desafio às forças de segurança, tragicamente carimbadas por fracassos no cumprimento de sua missão. O histórico não nos ajuda a confiar num desfecho adequado. Esperemos que, se o crime foi coisa de profissional, que a investigação não afunde no amadorismo.

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