Para expressar uma ideia consistente sobre algo que mereça sua atenção, de quanto tempo você precisa? Não responda agora. Depende do assunto, dos objetivos dessa tarefa e da abrangência que se pretenda alcançar – alguém poderia dizer. Penso no recurso da fala, na defesa oral de um ponto de vista. Em tese, é possível estabelecer um limite de alguns minutos, ou de algumas horas, para o indivíduo expor um raciocínio lógico, com preliminares, hipóteses e conclusões.
Mas isso não resolve o drama que é definir a exata duração de um intervalo de tempo para formular um pensamento. Como chegamos a tal definição? Por exemplo: numa palestra sobre a morte da arte na era do nada que pode ser tudo, uma hora está de bom tamanho para o palestrante? Ou em 30 minutos ele mata a conversa? Quando vamos a um evento desses, a cronologia do falatório é um aspecto quase rigoroso. E não sabemos quais requisitos decretaram a precisão do relógio.
Na tribuna do parlamento, antes de começar mais um daqueles discursos, o deputado ou o senador ouve o presidente da sessão avisar: “Vossa Excelência tem 20 minutos”. É o que prevê o regimento da casa. Com o prazo esgotado, uma espécie de sirene dispara, implacável, para informar que o orador deve se calar. Como se chegou a esse acordo temporal, também não sabemos.
Algo parecido se vê nos julgamentos do Supremo Tribunal Federal. A Presidência informa que o advogado terá míseros 10 minutos para tentar salvar o pescoço de seu cliente, e nem um segundo a mais. Nesse ambiente, o controle é bem mais inflexível. Caso o defensor seja interrompido, o tempo será descontado. Já os ministros, inclusive para acusar, falam eternamente. Não há limite.
O tempo é mortal na guerra das eleições, não apenas durante o famoso guia eleitoral na TV, mas também nas entrevistas e, mais ainda, nos debates. Diz o mediador: “O tema sorteado é educação. Candidato, o senhor tem 1 minuto e meio para explicar seus planos para o setor”. É ficção. O que ouviremos será uma sequência de frases feitas, tramadas pela refinada ciência de marqueteiros.
Na impossível tentativa de amenizar a modorrenta cerimônia do Oscar, deram 30 segundos para o premiado listar seus agradecimentos. Porque se não houver um freio, atores e atrizes mandam beijos a meio mundo, do trisavô ao cachorrinho da família. Artista, quando abre a boca, a gente sabe como é. Padrão semelhante, com ínfimas variações, é seguido em festivais de arte nos quatro cantos.
Seja onde for, não importa a pauta, seu tempo de fala muitas vezes está pré-estabelecido. E não adianta reclamar. Acrescento, é claro, o caso dos 15 segundos que a TV Globo concedeu ao povo para que ele resuma sua utopia brasileira. Aí, o critério da emissora é o mesmo aplicado para as entrevistas que aparecem nas reportagens. Conheci essa filosofia global por dentro da máquina.
Quando uma afiliada, como a TV Gazeta, produz conteúdo para o Jornal Nacional, o editor sabe que a reportagem não pode ultrapassar 1 minuto e meio. E a voz de personagens pode chegar, no máximo, nos 15 segundos. Acima disso, as cabeças pensantes na redação da Globo dizem que ninguém mais presta atenção. Preconceito? Delírio? Preguiça? Veja aí o que você acha dessa marmota.
Porque tudo tem de ser rápido, nenhuma vírgula a mais será permitida. A pressa, a velocidade e a urgência nos impõem um jeito único de existir – e até para morrer, inventamos a morte súbita. Mas, para impor o cronômetro na elaboração do pensamento, todo critério será abusivo.
Agora, se está provado que urgente mesmo é cada instante inapreensível da vida, que tudo comece e acabe num samba eterno de Wilson Batista: Meu mundo é hoje/ Não existe amanhã pra mim...