A notícia do dia, no mundo da bola, é a decisão da Fifa sobre o presidente afastado da CBF, Marco Polo Del Nero. A entidade internacional baniu para sempre do futebol o cartola brasileiro. As razões para medida tão drástica, claro, são os casos de corrupção envolvendo propina para jogos da seleção de Neymar & Cia. Como já escrevi aqui, uma quadrilha comanda o esporte mais popular na terra de Pelé, Garrincha e Joãozinho Paulista. Apesar dos escândalos, o esquema segue intocado no país.
Os competentes cartolas alagoanos devem estar tristes com a decisão da Fifa. Certamente consideram que o parceiro Del Nero é vítima de uma tremenda injustiça. Temos até um vice-presidente da CBF para a região Nordeste. Com esse prestígio, federação estadual e clubes como CSA e CRB são tradicionais aliados das jogadas dos capitães da tropa. A mesada garante a tabelinha.
Quando vejo reportagens sobre a delinquência no futebol, é impossível não pensar na TV Globo e nas autoridades da Justiça amarelinha. Tudo o que se sabe sobre a máfia da bola é consequência de jornalismo estrangeiro e de investigações muito longe do Brasil. Países da Europa e principalmente os Estados Unidos fizeram o que deveria ser feito entre nós. Mas aqui a retranca é indevassável.
Na imprensa, para homenagear a coragem de poucos, deve-se reconhecer que há exceções relevantes. Serei estupidamente óbvio ao lembrar que entre essas exceções a Globo nunca esteve e jamais estará. É impossível. Afinal, trata-se da maior parceira no sistema tático corrupto montado pela CBF. A Globo é uma sócia majoritária e absoluta no organograma. E a sociedade é indissolúvel.
Por isso, quando uma notícia como a de hoje, sobre Del Nero, aparece nos telejornais da casa, está lá o constrangimento na cara de apresentadores e repórteres. Deve ser ao menos um tantinho incômodo fingir que a empresa não tem nada a ver com a pilantragem. A realidade é o contrário.
É claro que não há o que festejar. Del Nero é cachorro morto. A Fifa e CBF sabem disso. A entidade brasileira já elegeu o novo presidente, o tal Rogério Caboclo – que no dia da eleição puxou aplauso para o antecessor. O novo chefe representa a perpetuação da mesma gangue. Tem saída?
O caminho único seria pelos clubes. Como o jogo não existe sem o jogador, caberia aos times brigar para assumir a organização do futebol. Mas aí entram os cartolas e os mercadores de atletas, entre outros males intocáveis no meio do campo. Eis aí um universo condenado à bandalheira.