PJ! O Partido da Justiça vai te pegar

21/04/2018 19:44 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Esclareço de saída, para registrar o devido crédito, que o nome de batismo “Partido da Justiça” é de autoria do economista André Singer, colunista da Folha de S. Paulo. Neste sábado, ele comenta a virtual candidatura presidencial de Joaquim Barbosa, o sempre nervosinho ex-presidente do STF. Em texto anterior, falei por que a alternativa do agora filiado ao PSB não me parece nada saudável. Ele chega como que representante do mundo perfeito do Poder Judiciário. Uma lorota.

 

Acertadamente, Singer aponta o ovo da serpente lá no processo do mensalão, quando Barbosa se transformou no herói dos caçadores do petismo e da esquerda. Com seus rugidos moralistas, foi o primeiro dos togados, na história recente do país, a sentir o gostinho do bafo ensandecido das massas. No meio do caminho, não foram poucas as vezes em que Barbosão mostrou sua face autoritária. Nas mais célebres dessas ocasiões, ofendeu jornalista por não gostar da pergunta.

 

O ex-ministro é assim. É todo simpatia, até ser confrontado com questões que, embora pertinentes e obrigatórias, provocam incômodo. Não é surpresa nenhuma. Eu diria que é mesmo a regra na República das Togas. Juízes não aceitam opinião contrária, sequer a dúvida sobre seus pontos de vista. Se forem contestados, então, já ameaçam dar voz de prisão em flagrante. E quem vai desafiá-los? Acima de seus poderes, ninguém. É a força descomunal de uma infame tradição.

 

Aí veio a Operação Lava Jato. Com o braço armado da Polícia Federal e a brilhantina dos menudos do MPF, os aprendizes de tiranete perceberam que a hora é agora. Tendo Sergio Moro à frente e Marcelo Bretas no batalhão auxiliar, desde então a turma presta seu belo serviço aos patriotas que formam os dez por cento mais ricos do país. De 2014 para cá, presunção de inocência, devido processo legal, acusação baseada em provas e respeito à Constituição deixaram de existir.  

 

O pensamento de Joaquim Barbosa navega nessas águas barrentas. Parte do eleitorado mergulhou fundo, de olhos fechados, e acredita mesmo que vai capturar os tubarões da corrupção e de todas as malvadezas do Brasil. Se o homem que veio do Supremo ainda hesita em ser candidato, é porque ele sabe que não é mais um intocável, não pode mais se valer do absolutismo que somente a toga lhe garantia. Ao contrário de Moro, Bretas e patota, se entrar na campanha, terá de dar explicações.

 

Por enquanto, como a degradação na vida pública segue sem freio ladeira abaixo, com ou sem Barbosa o Partido da Justiça avança com voracidade. É perturbador. Mas, seja lá como for, e sem querer amenizar as trevas, também há nisso tudo densos capítulos de patetice.

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