Mistificações e besteiras na mobilização dos policiais militares

20/04/2018 01:30 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Uma poderosa categoria do serviço público parte para a ofensiva nas negociações por reajuste salarial. Digamos que sejam professores e demais funcionários da educação. As ameaças para pressionar o gestor serão: fechamento de escolas, colapso do ano letivo e sérios transtornos para milhares de estudantes e suas famílias. Alguém já viu isso alguma vez? Se você não é um turista de outro planeta passeando por aqui, deve ter uma coleção de episódios assim para contar.

 

Agora digamos que os funcionários em pé de guerra com uma prefeitura ou um governo estadual são médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde. Para obter o que pretendem, eles podem apelar para as seguintes ações: negar atendimento em maternidades, fechar postos de saúde, cancelar procedimentos em unidade de emergência. De novo, é claro, a população terá sofrimento. Abusando da repetição de raciocínio, suponho que você viu isso inúmeras vezes.

 

Paro com as conjecturas. O comportamento de grevistas obedece a um padrão. Logo, não há novidade coisa nenhuma na forma como associações de militares – são nada menos que oito em Alagoas – estão agindo neste momento. Seus porta-vozes, que vivem brigando entre si, adotaram os velhos métodos para mobilizar a tropa. Lembrando: já ameaçaram fechar o porto de Maceió, parar as rondas nos bairros, não trabalhar em jogos de futebol e se aquartelar.

 

Também não se pode esquecer que entre as táticas de confronto está o blefe. O atual movimento dos militares, aliás, já provou que blefar é uma de suas artimanhas. As ameaças que citei acima tiveram até data marcada para ocorrer, mas, como se sabe, as rondas continuam, a entrada no porto está liberada e o policiamento garantiu a segurança no Rei Pelé. Por enquanto, o aquartelamento é apenas palavra de ordem no discurso dos presidentes de associações. Sim, há barulho e passeata.

 

Não estou discutindo dez ou cem por cento de aumento para os militares. Merecem o melhor salário possível. O ponto aqui é outro. Especulo sobre ideias. E por isso reitero que não há nada de excepcional no atual embate entre uma categoria de servidores e o governo. De lado a lado, vê-se a repetição do que sempre ocorre nessas horas. Tratar os policiais como heróis irretocáveis, donos de uma espécie de pureza essencial, é somente mistificação e besteira – além de piorar as coisas.

 

Quanto aos negociadores do atual governo, nem mais nem menos que seus antecessores. Com variações, seguem o manual que todos seguiram. Há certo exagero nas tais narrativas. A realidade não muda porque eu digo que mudou a realidade. Mas, pelo que ando vendo por aí, daqui a pouco alguém vai invocar o espírito de julho de 1997. Não duvido. Afinal, uma besteira puxa outra.   

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